domingo, 20 de janeiro de 2013

Um Rock a mais


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 29 de setembro de 2012. **



Ouvindo: High Water do Bob Dylan.

            Sei o motivo exato desta ansiedade. Esta angústia que aflora a cada dia, a cada hora. Esqueço-me apenas quando durmo. Acordei! Levanto e retomo os pensamentos angustiantes, pleiteando executar minha tarefa diária. Sigo com a minha profissão de pai (a melhor do mundo) e reflito sobre as possibilidades existentes. Olho para aquele ser que monitoro e esqueço. Por alguns instantes, esqueço.



            Chorei. E chorei de novo ontem. Tenho certeza que chorarei dias mais. Não por tristeza, mas por alegria, agradecimento, satisfação, contentamento. Chorei ontem mais uma vez. Sofro por antecipação? Não é sofrimento. São lágrimas de agradecimento e questionamentos?  Algo me sonda a mente: é tudo meu? Todo este presente é meu? É algo que me cabe cuidar, de verdade ou é fantasia, esquizofrenia?


            E choro de alegria, de felicidade. Estava sendo um bom tio. Sou orgulhoso disso. Tento, ao menos, dar um pouco de contribuição no crescimento de alguém que é do meu sangue também e que amei na barriga das minhas irmãs. Amei minha filha antes de ela vir. Só pode ser por isso que sinto a alegria que sinto. É difícil expressar algo que não se sabe; sente. Olhar e ver aqueles olhos lindos, aquela mão pequenina, tão singela.

            Olhando a Galinha Pintadinha e o Cocoricó faz esquecer das músicas que desde sempre ouço e gosto. Decorei até a ordem das canções que permeiam aquela televisão. Conto sozinho, comigo, aqui na frente do computador. Esqueço do que gosto; lembro do que a satisfaz. E é pela satisfação dela que vivo. E vivo feliz. Aliás, vivo muito mais feliz. Saber que alguém me espera com um sorriso banguela me motiva a estar em casa.

            E motiva meu choro, minhas lágrimas contidas em um gaguejar silencioso, em uma passagem de olhar por sobre aqueles cabelos de pêssego cheiroso. Vontade de morder! Vontade de apertar! Vontade de gritar! Passados quase oito meses ainda não me senti no chão. Claro que me coloco no lugar, neste mundo, mas esqueço quando estou a olhar e brincar. Fico bobo.

            E choro de satisfação, de sofrimento antecipado por algo que nem o sei, ainda. Quero fazer algo agora, pois não sei o que será daqui a pouco. No mundo e nas incertezas propostas pela vida, apresentadas, quero vivenciar cada instante com ela por perto. Amanhã não existe. Quero o agora. Aproveito meu momento único de com ela estar, sorrir e monitorar.

            Antes este momento do que algum no futuro em que arrepender-me-ei. Não imagino se estarei aqui, junto de vocês, dentro de alguns anos. Da mesma forma não sei com ela, por isso quero sentir, se aqui estiver dentro de algum tempo,  estar feliz de vivenciar este crescimento, estes dias banguelas, felizes e sorridentes. Abro os olhos e vejo a alegria de levantar e dar um “bom dia” para a segunda-feira, para a terça, quarta...

            Desejo viver e segurar na mão dela quando estiver começando a dar os primeiros passos. E estarei. Faltam poucos dias. O fim de um ciclo importante está prestes a findar. Contudo, não imagino como o será o próximo ciclo, tal qual o inverno do ano seguinte. Tenho de esperar para vivenciar e sentir. Mas choro, sim, de alegria e medo. Medo de algum dia (nem penso quando) não conseguir olhar para o lado.

            Obrigado vida por isso. Obrigado pelos que passaram, pelos que apoiaram, pelos que lutaram junto, pelos que desejaram. Obrigado vida pela vida e pela insistência na minha presença aqui. Quem sabe não estaria. Pensei em não estar. Hoje, mais do que ontem, quero estar. E estarei, aqui e lá, com a mesma intensidade que eu amo você, minha filha. É por você que vivo.

Ouvindo: Banzai Washout do Lost Fiction.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

As tias


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, dia 22 de setembro de 2012. **


Ouvindo: Wherever You May Go do David Coverdale.


           
Professora não é tia de ninguém. Professor também não. Aliás, deixa-me corrigir, professora é tia apenas dos sobrinhos e tio da mesma forma. Não sei o motivo que levam os pais a tirarem os educadores para tio e tia. Professor é educador. Pode ser tio ou tia, mas fora da sala. Enquanto profissional, é professor. Não sei qual o motivo que levou alguém, em um passado desconhecido, a nominar de “tio e tia”.

Da mesma forma como nominam o delegado, juiz, advogado, médico de doutor. Doutor é aquele sujeito que estudou muito e finalizou o doutorado. E foi um caminho de muito estudo até obter a aprovação da banca. O trabalho teve de ser feito com dedicação e pesquisa até passar pelo crivo de gente muito crítica. O doutorado é o tal do PhD, coisa difícil de se obter; requer muito estudo.

Sempre há aqueles afirmando que não devemos mudar de hábito. Porém, a nossa cultura muda. Muda a cada dia. Anos atrás usávamos papel e borracha para somar. Hoje, são os computadores. As próprias calculadoras já estão sendo descartadas. Não que o hábito ou a cultura sejam desnecessários. Pelo contrário, são importantes para nossa vivência harmoniosa em sociedade. 

Velhos hábitos, como chamar o pai e mãe de senhor e senhora, por exemplo, é um hábito que mantenho desde sempre. Não apenas comigo, mas muitos outros. Apenas respeitar as pessoas, em suas funções, já é de bom tamanho, mas não superdimensionar uma função ou cargo. Respeitar é bom, mas bajular já é questionável. Apenas lembrei da professora da escola. Estudou para ser tia?

Apenas pretendo colocar mérito para quem merece o mérito. Redundante? É para ser mesmo. Mudar hábitos ou costumes sempre causa desconforto, mas, algumas vezes, este desconforto se faz necessário. Deixa para chamar de tio ou tia o irmão do teu pai ou mãe, e chama quem educa o filho de professor ou professora. Tenho certeza que ela ou ele nunca disse nada, mas ficará bem feliz ao escutar esta palavra.
Não quero ouvir minha filha na escola chamando a professora de tia. Da mesma forma não quero que ela me chame de “tu, cara, maluco, ô meu”. Um pai ou papai soaria tão melhor. Sou antiquado com isso, um costume que não perdi. Mesmo com todas as mudanças que são possíveis, algumas podem permanecem. Quem sabe me chame de professor dentro de algum tempo, mas deixa chegar o momento.

Respeitar os demais sempre é bom, até motivado pelo respeito que gostaríamos que nos fosse dispensado. Não pelo cargo ou função que exerce, mas pelo respeito ao próximo, seja quem for. É bom bonito e gostos de ouvir a educação das pessoas, sentir a educação e respeito nas conversas, ver o respeito nas palavras e ações. Não é pedir demais um senhor ou senhor e muito obrigado.

Lembro que escutei uma vez alguém contar que o chamar alguém pelo nome funciona melhor para abrir uma porta. Dizia ainda: tenta bater em uma porta e gritar qualquer coisa. Dificilmente alguém abrirá.  Mas tenta chamar a pessoa do outro lado pelo nome. Ao menos, ouvirá outra pergunta: “o que quer?”. Pode não resolver, mas funciona que é uma beleza.

Ouvindo: Falling In And Out Of Love da Lita Ford.  

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O sol sempre brilhará


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 15 de setembro de 2012. **


Ouvindo: Sun do John Lydon.

Desde que os nossos antecessores (muitos deles vivos) decidiram que o Brasil teria o Presidencialismo como Sistema de Governo, através do Referendo de 1963, queriam que a democracia fosse levada a cabo, ou seja, que o cidadão pudesse escolher, de forma livre, os seus representantes legítimos. Em outubro próximo, exatamente no dia 7,  iremos às urnas para o exercício de um poder que só nós, cidadãos eleitores, temos: o de votar.

A Democracia não pode ser entendida apenas como o direito de votar em que preferir, mas sim, ter a oportunidade de participar, opinar, sugerir, torcer, vibrar, desejar, querer e fazer. Contudo, isso tudo de forma livre, sem prejudicar este ou aquele. No artigo 3º da nossa Constituição Federal(CF) está escrito: “I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. A expressão livre, contudo, seguindo o próprio entendimento jurídico, não é absoluta ou o “fazer o que quiser”.

Estamos em dias tensos, quentes. Afloram nos cidadãos os anseios pela vitória (ninguém gosta de perder) de um determinado partido ou candidato. Porém, como ocorre a cada dois anos (oscila entre escolha de prefeitos e , depois, presidente e governadores) as eleições ocorrem; E PASSAM. Este período de campanha é passageiro, tal qual o pleito. Todo campeonato tem início, meio e almeja o final (poucos os que pararam no meio do caminho). Iniciam e terminam.

O que isso quer dizer? Quero dizer que as eleições passam. Mas a eleição não deve ser motivo de guerra, de briga, de criar inimizades, travar debates homéricos em mesa de bar, brigar com o vizinho, atravessar a rua motivado por tal candidato no mesmo caminho. Deve ser um momento para analisar, pensar, refletir, planejar o nosso (teu e meu) futuro.  É momento de avaliarmos bem quem queremos que nos represente. Isso é o que se pretendeu quando definiram nosso Sistema de Governo.

As eleições passam, mas as pessoas ficam. Estar no poder é passageiro. É por um período.  Há a possibilidade de seguir sim; com nova opção do eleitor. O pleito passa, os gestores passam, mas as pessoas ficam. As p-e-s-s-o-a-s! E é isso que deve prevalecer: a pessoa, o ser humano. Não podemos privilegiar a discórdia, a briga, a insensatez, a raiva, a inimizade. Devemos lembrar que este tempo passa, tal qual um temporal. Os políticos vem e vão, mas as pessoas ficam.



Quando nosso time é derrotado pelo time do amigo não é motivo de briga. Do contrário, durante o jogo torcemos, conversamos, vaiamos, comemoramos e, no final, saímos abraçados. A vida prossegue. O jogo acaba, mas as pessoas continuam. Nós seguimos. No próximo, quem sabe, seja o momento de nós vencermos, do amigo rir e o ciclo continua. Não podemos deixar que esta Democracia, a liberdade de escolha, possa interferir na nossa relação de amizade.



Estamos em período eleitoral, mas para decidir nosso futuro. Não estamos em uma guerra, lutando pela vida. O que quero exprimir é que as pessoas não devem criar inimizades apenas por convicções políticas. Cada um decida, opte, escolha, defina. Não se pode deixar que integrantes equipes distintas deixem de se olhar, de se falar, de se cumprimentar em razão de uma escolha. Mesmo que de times diferentes, o desejo é que a Democracia prevaleça; o sol nascerá novamente amanhã.

Não quero ensinar a minha filha a virar o rosto para um colega, pelo simples fato de o pai ou mãe gostar de sertanejo ou de pagode, ou de bandinha, ou de eletrônico. Não gosto, é fato, mas isso não pode interferir na relação entre os dois. Quero que ela seja livre, respeite o colega. Que respeite o colega pela opção que ele ou seus pais fizeram. De verdade, quero caminhar no dia 8 e cumprimentar aquele que me excluiu do Facebook, voltar a apertar sua mão; sorver uma chávena de café juntos. Viveremos!

Ouvindo: Sunday Bloody Sunday do U2.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma vida de reclamações


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 18 de agosto de 2012. **


Ouvindo: Ain`t That Just Like A Woman do Louis Jordan

Sempre há o que reclamar. E como é bom reclamar! Está por nascer algum ser que não goste de reclamar. Seja uma reclamação pequena até os berros com a atendente do SAC. O serviço mal feito, o produto entregue fora do prazo, a ligação que é interrompida, a produto danificado, a comida muito salgada, a louça suja na pia, a camisa mal passada, as meias no chão da sala, a chegada atrasada.

Qualquer motivo é sempre um bom motivo. Caso não tenha algo palpável, cria-se um. E reclama-se de algo do qual nada tinha a ser reclamado. Importante é reclamar. Reclamar não quer dizer gritar. Ao gritar já se perde metade da razão. Dizem que os gritos só chegam quando os motivos começam a escassear. Contudo, a voz mais potente ganha a reclamação, quem sabe a discussão.

Mas a vida do atendente de SAC deve ser mais contente. Enquanto o sujeito está aos berros reclamando, ele aperta o tal do “mute” e segue lixando as unhas, jogando paciência ou rindo sobre a noitada anterior com o colega. Ainda o filho da mãe diz: “entendo a razão do senhor, mas estamos verificando o problema”. Já percebeu como o atendente demora para responder depois que você para de falar? Estava no “mute”.

Reclamo faz 32 anos. Logo que nasci reclamava por causa da comida (sentir fome é bravo), da fralda suja, daquela calça plástica desgraçada que minha amada Mamá colocava sobre a de pano. Ruim mesmo era quando aquela safada escorregava da mão e “slápt” naquela bunda fofa e branquela. Um sonoro e estridente “uééééé” surgia. E já vinha alguém reclamar por causa dos gritos. Todo mundo reclama de algo.

Reclamar é tão bom quanto comer. Sentar em uma mesa e reclamar do mundo, sorvendo um copo de alguma coisa e entre as estateladas do garfo no prato. Reclamar é tão viciante quanto fofocar ou ficar doente. O hipocondríaco já reclama de tudo. Fofoca da saúde do vizinho, fazem disputa para saber quem é o mais doente e acabam adoecendo os familiares mais próximos.

Tento não reclamar tanto, mas é difícil. Quando penso que tudo está bem bom, vem aquele filho da mãe com som alto e ouvindo um sertanejo horrendo pela rua ou com aquela propaganda chata do bailão do final de semana, com cachaça livre e mais trabalho para a polícia. Tento, mas é difícil. Morar no mato também não daria, pois vem aquele filho da mãe do galo cantar logo cedo. O mundo faz barulho.

Caso preste atenção, até a Terra, em seu sistema de rotação, faz barulho. Ando mais silencioso e reclamo com tudo. Mas é bom, faz passar o tempo. Reclamar é tão bom. É algo que os psicólogos ganham para ouvir. Mas bom mesmo é fazer o tratamento gratuito: vai no vizinho. Ainda, se der sorte, consegue um café, almoço ou janta de brinde.


A chegada da minha filha faz-me pensar nas reclamações da vida. Reclamava de muita coisa, mas hoje se transformou em algo mais interessante. Nem reclamo tanto. Ou, pelo menos, é isso que penso. Tenho de consultar quem está ao lado. No fundo, seguirei reclamando. D. Pedro reclamou no seu tempo e hoje temos nosso Brasil. Vai que em alguma destas reclamações não consiga fazer algo importante.


Ouvindo: Touch Of Blue do Stanley Jordan