quinta-feira, 24 de maio de 2012

A tentativa


* Coluna do Diário do Meio Oeste, veiculada dia 17 de março. 
Aos novos ajudantes do Mendigo, cabe uma explicação rápida: os textos mais recentes são colunas que escrevo, semanalmente, no jornal Diário do Meio Oeste. 


Ouvindo: Hells Bells do AC/DC.

Há mais de dois meses que não fumo. Sinto saudades do meu velho companheiro. Sinto saudades, de vez em quando falta, mas fico mais feliz sabendo que ele se encontra bem protegido, atrás de um balcão. E que fique lá. Entretanto, alguns outros permanecem passeando no bolso ou na bolsa de muitas outras pessoas. Não morri. Prova é que estou escrevendo, sentando e ouvindo o Brian Johnson cantar. 

A propósito, não parei. Devo fazer esta retificação: estou tentando. Nem sei se pararei algum dia. Ouvi dias atrás que parar de fumar é fácil. Conta o sujeito: “Meu avô diz que parar de fumar é a coisa mais fácil do mundo. Já parou, sozinho e sem ajuda, 32 vezes!”. Apenas faz mais de dois meses que não vejo o “zé”. Quando cruzo a rua, vejo o “zé” na mão ou boca de alguns. Aquele cheirinho tão bom.

Não fiquei doente; tampouco louco. Apenas fui abatido pela insônia, inquietude, um pouco de irritação e fome. Ah! E muita fome. Estou quase um porco (tal qual um de granja). Nunca antes fui de comer tanto (mas agora em menor quantidade), mas parece que ocupava os tempos de janela para ir procurar algo no refrigerador ou nos armários. Engraçado, nem eu sabia que tinha biscoito recheado em casa!  E eles são bem gostosos.

Para matar o desejo (parecia que eu estava grávido), já me deliciava com um pacote inteiro e um copão de café com leite. E ainda tinha fome. Tentava dormir. Tentei, mas meus olhos pareciam sempre abertos. Apenas dormindo é que eu não sentia fome. Sentia fome, mas não o desejo de rever o “zé”. Não é fácil, apesar das minhas brincadeiras verídicas e que enfrentei há poucos dias.


Porém, não pedi para ninguém parar de fumar, nem fumar longe, muito menos campanha para obrigar as pessoas em deixar o cigarro. Vivemos em um país livre. Bom, a liberdade não é absoluta. Nem a Constituição Federal, muitos menos suas infindáveis compreensões, deixa o pais ser livre, por mais que assim o pregam. Fumar não é permitido aqui, nem ali, nem lá, acolá também não. E a liberdade do fumante?

Queria saber o motivo de ninguém proibir os carros de circularem, pois são eles os causadores do efeito estufa e de problemas respiratórios em muitas pessoas, mesmo aquelas que andam de bicicleta. Ainda por cima, o cheiro da fumaça do escapamento também não é aroma de um bom perfume. Ninguém reclama do cheiro, mas caso passe algum fumante, já vão alguns elogios pelas costas.

Não quero defender o uso, mas a liberdade de escolha. O fumo é uma droga lícita. Nunca reclamei de alguma pessoa que anda com roupa amarela. Por mais que eu não goste, respeito e não tenho direito de falar um “a” contra. Caso me sinta mal do lado dela, vou para outro lado. Não vejo a necessidade de pedir para que ela saia daquele local e vá esperar, ou ficar parada, em outro lado com sua roupa amarela.

O país deve ser livre e o respeito deve perdurar. Quem sabe eu esteja parando de fumar por causa do cheiro perto de minha filha. Não havia pensado nisso, mas pode ser uma razão. Apenas me sinto mais confortável em ficar ao lado das pessoas, da minha filha. Não sei se sinto-me melhor, mas imagino que posso conviver com a falta do “zé”, por mais que me traga boas recordações durante os vários anos de noivado.

Ouvindo: Headless Cross do Black Sabbath.


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