** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 29 de setembro de 2012. **
Ouvindo: High Water do Bob Dylan.
Sei o motivo exato desta ansiedade. Esta angústia
que aflora a cada dia, a cada hora. Esqueço-me apenas quando durmo. Acordei!
Levanto e retomo os pensamentos angustiantes, pleiteando executar minha tarefa
diária. Sigo com a minha profissão de pai (a melhor do mundo) e reflito sobre
as possibilidades existentes. Olho para aquele ser que monitoro e esqueço. Por
alguns instantes, esqueço.
Chorei. E chorei de novo ontem. Tenho certeza que
chorarei dias mais. Não por tristeza, mas por alegria, agradecimento,
satisfação, contentamento. Chorei ontem mais uma vez. Sofro por antecipação?
Não é sofrimento. São lágrimas de agradecimento e questionamentos? Algo me sonda a mente: é tudo meu? Todo este
presente é meu? É algo que me cabe cuidar, de verdade ou é fantasia,
esquizofrenia?
E choro de alegria, de felicidade. Estava sendo um bom
tio. Sou orgulhoso disso. Tento, ao menos, dar um pouco de contribuição no
crescimento de alguém que é do meu sangue também e que amei na barriga das
minhas irmãs. Amei minha filha antes de ela vir. Só pode ser por isso que sinto
a alegria que sinto. É difícil expressar algo que não se sabe; sente. Olhar e
ver aqueles olhos lindos, aquela mão pequenina, tão singela.
Olhando a Galinha Pintadinha e o Cocoricó faz esquecer
das músicas que desde sempre ouço e gosto. Decorei até a ordem das canções que
permeiam aquela televisão. Conto sozinho, comigo, aqui na frente do computador.
Esqueço do que gosto; lembro do que a satisfaz. E é pela satisfação dela que
vivo. E vivo feliz. Aliás, vivo muito mais feliz. Saber que alguém me espera
com um sorriso banguela me motiva a estar em casa.
E motiva meu choro, minhas lágrimas contidas em um
gaguejar silencioso, em uma passagem de olhar por sobre aqueles cabelos de
pêssego cheiroso. Vontade de morder! Vontade de apertar! Vontade de gritar!
Passados quase oito meses ainda não me senti no chão. Claro que me coloco no
lugar, neste mundo, mas esqueço quando estou a olhar e brincar. Fico bobo.
E choro de satisfação, de sofrimento antecipado por algo
que nem o sei, ainda. Quero fazer algo agora, pois não sei o que será daqui a
pouco. No mundo e nas incertezas propostas pela vida, apresentadas, quero
vivenciar cada instante com ela por perto. Amanhã não existe. Quero o agora.
Aproveito meu momento único de com ela estar, sorrir e monitorar.
Antes este momento do que algum no futuro em que
arrepender-me-ei. Não imagino se estarei aqui, junto de vocês, dentro de alguns
anos. Da mesma forma não sei com ela, por isso quero sentir, se aqui estiver
dentro de algum tempo, estar feliz de
vivenciar este crescimento, estes dias banguelas, felizes e sorridentes. Abro
os olhos e vejo a alegria de levantar e dar um “bom dia” para a segunda-feira,
para a terça, quarta...
Desejo viver e segurar na mão dela quando estiver
começando a dar os primeiros passos. E estarei. Faltam poucos dias. O fim de um
ciclo importante está prestes a findar. Contudo, não imagino como o será o
próximo ciclo, tal qual o inverno do ano seguinte. Tenho de esperar para
vivenciar e sentir. Mas choro, sim, de alegria e medo. Medo de algum dia (nem
penso quando) não conseguir olhar para o lado.
Obrigado vida por isso. Obrigado pelos que passaram,
pelos que apoiaram, pelos que lutaram junto, pelos que desejaram. Obrigado vida
pela vida e pela insistência na minha presença aqui. Quem sabe não estaria.
Pensei em não estar. Hoje, mais do que ontem, quero estar. E estarei, aqui e
lá, com a mesma intensidade que eu amo você, minha filha. É por você que vivo.
Ouvindo: Banzai Washout do Lost Fiction.