domingo, 20 de janeiro de 2013

Um Rock a mais


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 29 de setembro de 2012. **



Ouvindo: High Water do Bob Dylan.

            Sei o motivo exato desta ansiedade. Esta angústia que aflora a cada dia, a cada hora. Esqueço-me apenas quando durmo. Acordei! Levanto e retomo os pensamentos angustiantes, pleiteando executar minha tarefa diária. Sigo com a minha profissão de pai (a melhor do mundo) e reflito sobre as possibilidades existentes. Olho para aquele ser que monitoro e esqueço. Por alguns instantes, esqueço.



            Chorei. E chorei de novo ontem. Tenho certeza que chorarei dias mais. Não por tristeza, mas por alegria, agradecimento, satisfação, contentamento. Chorei ontem mais uma vez. Sofro por antecipação? Não é sofrimento. São lágrimas de agradecimento e questionamentos?  Algo me sonda a mente: é tudo meu? Todo este presente é meu? É algo que me cabe cuidar, de verdade ou é fantasia, esquizofrenia?


            E choro de alegria, de felicidade. Estava sendo um bom tio. Sou orgulhoso disso. Tento, ao menos, dar um pouco de contribuição no crescimento de alguém que é do meu sangue também e que amei na barriga das minhas irmãs. Amei minha filha antes de ela vir. Só pode ser por isso que sinto a alegria que sinto. É difícil expressar algo que não se sabe; sente. Olhar e ver aqueles olhos lindos, aquela mão pequenina, tão singela.

            Olhando a Galinha Pintadinha e o Cocoricó faz esquecer das músicas que desde sempre ouço e gosto. Decorei até a ordem das canções que permeiam aquela televisão. Conto sozinho, comigo, aqui na frente do computador. Esqueço do que gosto; lembro do que a satisfaz. E é pela satisfação dela que vivo. E vivo feliz. Aliás, vivo muito mais feliz. Saber que alguém me espera com um sorriso banguela me motiva a estar em casa.

            E motiva meu choro, minhas lágrimas contidas em um gaguejar silencioso, em uma passagem de olhar por sobre aqueles cabelos de pêssego cheiroso. Vontade de morder! Vontade de apertar! Vontade de gritar! Passados quase oito meses ainda não me senti no chão. Claro que me coloco no lugar, neste mundo, mas esqueço quando estou a olhar e brincar. Fico bobo.

            E choro de satisfação, de sofrimento antecipado por algo que nem o sei, ainda. Quero fazer algo agora, pois não sei o que será daqui a pouco. No mundo e nas incertezas propostas pela vida, apresentadas, quero vivenciar cada instante com ela por perto. Amanhã não existe. Quero o agora. Aproveito meu momento único de com ela estar, sorrir e monitorar.

            Antes este momento do que algum no futuro em que arrepender-me-ei. Não imagino se estarei aqui, junto de vocês, dentro de alguns anos. Da mesma forma não sei com ela, por isso quero sentir, se aqui estiver dentro de algum tempo,  estar feliz de vivenciar este crescimento, estes dias banguelas, felizes e sorridentes. Abro os olhos e vejo a alegria de levantar e dar um “bom dia” para a segunda-feira, para a terça, quarta...

            Desejo viver e segurar na mão dela quando estiver começando a dar os primeiros passos. E estarei. Faltam poucos dias. O fim de um ciclo importante está prestes a findar. Contudo, não imagino como o será o próximo ciclo, tal qual o inverno do ano seguinte. Tenho de esperar para vivenciar e sentir. Mas choro, sim, de alegria e medo. Medo de algum dia (nem penso quando) não conseguir olhar para o lado.

            Obrigado vida por isso. Obrigado pelos que passaram, pelos que apoiaram, pelos que lutaram junto, pelos que desejaram. Obrigado vida pela vida e pela insistência na minha presença aqui. Quem sabe não estaria. Pensei em não estar. Hoje, mais do que ontem, quero estar. E estarei, aqui e lá, com a mesma intensidade que eu amo você, minha filha. É por você que vivo.

Ouvindo: Banzai Washout do Lost Fiction.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

As tias


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, dia 22 de setembro de 2012. **


Ouvindo: Wherever You May Go do David Coverdale.


           
Professora não é tia de ninguém. Professor também não. Aliás, deixa-me corrigir, professora é tia apenas dos sobrinhos e tio da mesma forma. Não sei o motivo que levam os pais a tirarem os educadores para tio e tia. Professor é educador. Pode ser tio ou tia, mas fora da sala. Enquanto profissional, é professor. Não sei qual o motivo que levou alguém, em um passado desconhecido, a nominar de “tio e tia”.

Da mesma forma como nominam o delegado, juiz, advogado, médico de doutor. Doutor é aquele sujeito que estudou muito e finalizou o doutorado. E foi um caminho de muito estudo até obter a aprovação da banca. O trabalho teve de ser feito com dedicação e pesquisa até passar pelo crivo de gente muito crítica. O doutorado é o tal do PhD, coisa difícil de se obter; requer muito estudo.

Sempre há aqueles afirmando que não devemos mudar de hábito. Porém, a nossa cultura muda. Muda a cada dia. Anos atrás usávamos papel e borracha para somar. Hoje, são os computadores. As próprias calculadoras já estão sendo descartadas. Não que o hábito ou a cultura sejam desnecessários. Pelo contrário, são importantes para nossa vivência harmoniosa em sociedade. 

Velhos hábitos, como chamar o pai e mãe de senhor e senhora, por exemplo, é um hábito que mantenho desde sempre. Não apenas comigo, mas muitos outros. Apenas respeitar as pessoas, em suas funções, já é de bom tamanho, mas não superdimensionar uma função ou cargo. Respeitar é bom, mas bajular já é questionável. Apenas lembrei da professora da escola. Estudou para ser tia?

Apenas pretendo colocar mérito para quem merece o mérito. Redundante? É para ser mesmo. Mudar hábitos ou costumes sempre causa desconforto, mas, algumas vezes, este desconforto se faz necessário. Deixa para chamar de tio ou tia o irmão do teu pai ou mãe, e chama quem educa o filho de professor ou professora. Tenho certeza que ela ou ele nunca disse nada, mas ficará bem feliz ao escutar esta palavra.
Não quero ouvir minha filha na escola chamando a professora de tia. Da mesma forma não quero que ela me chame de “tu, cara, maluco, ô meu”. Um pai ou papai soaria tão melhor. Sou antiquado com isso, um costume que não perdi. Mesmo com todas as mudanças que são possíveis, algumas podem permanecem. Quem sabe me chame de professor dentro de algum tempo, mas deixa chegar o momento.

Respeitar os demais sempre é bom, até motivado pelo respeito que gostaríamos que nos fosse dispensado. Não pelo cargo ou função que exerce, mas pelo respeito ao próximo, seja quem for. É bom bonito e gostos de ouvir a educação das pessoas, sentir a educação e respeito nas conversas, ver o respeito nas palavras e ações. Não é pedir demais um senhor ou senhor e muito obrigado.

Lembro que escutei uma vez alguém contar que o chamar alguém pelo nome funciona melhor para abrir uma porta. Dizia ainda: tenta bater em uma porta e gritar qualquer coisa. Dificilmente alguém abrirá.  Mas tenta chamar a pessoa do outro lado pelo nome. Ao menos, ouvirá outra pergunta: “o que quer?”. Pode não resolver, mas funciona que é uma beleza.

Ouvindo: Falling In And Out Of Love da Lita Ford.  

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O sol sempre brilhará


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 15 de setembro de 2012. **


Ouvindo: Sun do John Lydon.

Desde que os nossos antecessores (muitos deles vivos) decidiram que o Brasil teria o Presidencialismo como Sistema de Governo, através do Referendo de 1963, queriam que a democracia fosse levada a cabo, ou seja, que o cidadão pudesse escolher, de forma livre, os seus representantes legítimos. Em outubro próximo, exatamente no dia 7,  iremos às urnas para o exercício de um poder que só nós, cidadãos eleitores, temos: o de votar.

A Democracia não pode ser entendida apenas como o direito de votar em que preferir, mas sim, ter a oportunidade de participar, opinar, sugerir, torcer, vibrar, desejar, querer e fazer. Contudo, isso tudo de forma livre, sem prejudicar este ou aquele. No artigo 3º da nossa Constituição Federal(CF) está escrito: “I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. A expressão livre, contudo, seguindo o próprio entendimento jurídico, não é absoluta ou o “fazer o que quiser”.

Estamos em dias tensos, quentes. Afloram nos cidadãos os anseios pela vitória (ninguém gosta de perder) de um determinado partido ou candidato. Porém, como ocorre a cada dois anos (oscila entre escolha de prefeitos e , depois, presidente e governadores) as eleições ocorrem; E PASSAM. Este período de campanha é passageiro, tal qual o pleito. Todo campeonato tem início, meio e almeja o final (poucos os que pararam no meio do caminho). Iniciam e terminam.

O que isso quer dizer? Quero dizer que as eleições passam. Mas a eleição não deve ser motivo de guerra, de briga, de criar inimizades, travar debates homéricos em mesa de bar, brigar com o vizinho, atravessar a rua motivado por tal candidato no mesmo caminho. Deve ser um momento para analisar, pensar, refletir, planejar o nosso (teu e meu) futuro.  É momento de avaliarmos bem quem queremos que nos represente. Isso é o que se pretendeu quando definiram nosso Sistema de Governo.

As eleições passam, mas as pessoas ficam. Estar no poder é passageiro. É por um período.  Há a possibilidade de seguir sim; com nova opção do eleitor. O pleito passa, os gestores passam, mas as pessoas ficam. As p-e-s-s-o-a-s! E é isso que deve prevalecer: a pessoa, o ser humano. Não podemos privilegiar a discórdia, a briga, a insensatez, a raiva, a inimizade. Devemos lembrar que este tempo passa, tal qual um temporal. Os políticos vem e vão, mas as pessoas ficam.



Quando nosso time é derrotado pelo time do amigo não é motivo de briga. Do contrário, durante o jogo torcemos, conversamos, vaiamos, comemoramos e, no final, saímos abraçados. A vida prossegue. O jogo acaba, mas as pessoas continuam. Nós seguimos. No próximo, quem sabe, seja o momento de nós vencermos, do amigo rir e o ciclo continua. Não podemos deixar que esta Democracia, a liberdade de escolha, possa interferir na nossa relação de amizade.



Estamos em período eleitoral, mas para decidir nosso futuro. Não estamos em uma guerra, lutando pela vida. O que quero exprimir é que as pessoas não devem criar inimizades apenas por convicções políticas. Cada um decida, opte, escolha, defina. Não se pode deixar que integrantes equipes distintas deixem de se olhar, de se falar, de se cumprimentar em razão de uma escolha. Mesmo que de times diferentes, o desejo é que a Democracia prevaleça; o sol nascerá novamente amanhã.

Não quero ensinar a minha filha a virar o rosto para um colega, pelo simples fato de o pai ou mãe gostar de sertanejo ou de pagode, ou de bandinha, ou de eletrônico. Não gosto, é fato, mas isso não pode interferir na relação entre os dois. Quero que ela seja livre, respeite o colega. Que respeite o colega pela opção que ele ou seus pais fizeram. De verdade, quero caminhar no dia 8 e cumprimentar aquele que me excluiu do Facebook, voltar a apertar sua mão; sorver uma chávena de café juntos. Viveremos!

Ouvindo: Sunday Bloody Sunday do U2.


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Uma vida de reclamações


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, edição do dia 18 de agosto de 2012. **


Ouvindo: Ain`t That Just Like A Woman do Louis Jordan

Sempre há o que reclamar. E como é bom reclamar! Está por nascer algum ser que não goste de reclamar. Seja uma reclamação pequena até os berros com a atendente do SAC. O serviço mal feito, o produto entregue fora do prazo, a ligação que é interrompida, a produto danificado, a comida muito salgada, a louça suja na pia, a camisa mal passada, as meias no chão da sala, a chegada atrasada.

Qualquer motivo é sempre um bom motivo. Caso não tenha algo palpável, cria-se um. E reclama-se de algo do qual nada tinha a ser reclamado. Importante é reclamar. Reclamar não quer dizer gritar. Ao gritar já se perde metade da razão. Dizem que os gritos só chegam quando os motivos começam a escassear. Contudo, a voz mais potente ganha a reclamação, quem sabe a discussão.

Mas a vida do atendente de SAC deve ser mais contente. Enquanto o sujeito está aos berros reclamando, ele aperta o tal do “mute” e segue lixando as unhas, jogando paciência ou rindo sobre a noitada anterior com o colega. Ainda o filho da mãe diz: “entendo a razão do senhor, mas estamos verificando o problema”. Já percebeu como o atendente demora para responder depois que você para de falar? Estava no “mute”.

Reclamo faz 32 anos. Logo que nasci reclamava por causa da comida (sentir fome é bravo), da fralda suja, daquela calça plástica desgraçada que minha amada Mamá colocava sobre a de pano. Ruim mesmo era quando aquela safada escorregava da mão e “slápt” naquela bunda fofa e branquela. Um sonoro e estridente “uééééé” surgia. E já vinha alguém reclamar por causa dos gritos. Todo mundo reclama de algo.

Reclamar é tão bom quanto comer. Sentar em uma mesa e reclamar do mundo, sorvendo um copo de alguma coisa e entre as estateladas do garfo no prato. Reclamar é tão viciante quanto fofocar ou ficar doente. O hipocondríaco já reclama de tudo. Fofoca da saúde do vizinho, fazem disputa para saber quem é o mais doente e acabam adoecendo os familiares mais próximos.

Tento não reclamar tanto, mas é difícil. Quando penso que tudo está bem bom, vem aquele filho da mãe com som alto e ouvindo um sertanejo horrendo pela rua ou com aquela propaganda chata do bailão do final de semana, com cachaça livre e mais trabalho para a polícia. Tento, mas é difícil. Morar no mato também não daria, pois vem aquele filho da mãe do galo cantar logo cedo. O mundo faz barulho.

Caso preste atenção, até a Terra, em seu sistema de rotação, faz barulho. Ando mais silencioso e reclamo com tudo. Mas é bom, faz passar o tempo. Reclamar é tão bom. É algo que os psicólogos ganham para ouvir. Mas bom mesmo é fazer o tratamento gratuito: vai no vizinho. Ainda, se der sorte, consegue um café, almoço ou janta de brinde.


A chegada da minha filha faz-me pensar nas reclamações da vida. Reclamava de muita coisa, mas hoje se transformou em algo mais interessante. Nem reclamo tanto. Ou, pelo menos, é isso que penso. Tenho de consultar quem está ao lado. No fundo, seguirei reclamando. D. Pedro reclamou no seu tempo e hoje temos nosso Brasil. Vai que em alguma destas reclamações não consiga fazer algo importante.


Ouvindo: Touch Of Blue do Stanley Jordan

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Pai e filha

** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste do dia 11/08/2012. **



Ouvindo: Stairway to Heaven do Led Zeppelin.

            Presentear o pai é mais fácil do que a mãe. Fui visitar meu velho na semana passada e levar minha filha para conhecê-lo. Ela olhou para um lado, para o outro. Sentimos o vento frio que percorria as ruelas do lugar. Por dentro, emocionei-me ao vê-lo outra vez. Mesmo que apenas sua foto na lápide, mas fiz questão de conversar com ele e apresentar a neta. O Dia dos Pais já não é o mesmo. Neste já sou pai; pai e filho.

            Foi meu presente, meu sorriso para o rosto dele. É cedo ainda, mas não poderia deixar de dar um “Oi, pai!” e apresentar a minha filha. Tenho certeza que, de onde está, sorriu. Não seria um corpo que separaria meu sentimento. Onde o meu velho está, deve estar feliz. Caso esteja errado, deve estar esculhambando o céu com as piadas sem graça ou dando trabalho para o “coisa ruim”. Mas parado o cara não está.

            A mãe nós a temos como imagem presente, já o pai na necessidade da força e da brincadeira. Ambos têm fundamental importância: sem um não haveria nós e sem o nós não haveria vida. O braço forte do velho já não me suporta mais, mas a lembrança do que foi me conforta. Entristece, mas conforta. Já não adianta reclamar ou lamentar o que foi, mas maravilhar-se com o que chegou.

            E chegou meu dia de emoção. Estou ansioso em saber o que ganharei de presente. Ganhei meu primeiro presente do dia dos velhos na segunda, na escola. Soa bobo, mas foi divino ver as imagens da minha filha no telão da escola, com outros bobos ao lado. Era para os pais, mas as mães estavam lá. Elas sempre estão. Metidas, sempre estão onde as crias estão. Furtam a atenção. Mesmo assim, amei.

            O meu rico tesourinho “se apresentou” divinamente. No colo da mãe ou na imagem fotográfica estava linda. É minha filha, minha maior traquinagem, meu maior tesouro. Neste Dia dos Pais, quero defender os futuros pais que, como eu, gostariam de ficar mais perto dos filhos. Defendo a ideia da licença paternidade de três mês, aos ínfimos três dias atuais. É muito pouco tempo. Explico.



            Um dia e pouco ficamos no hospital. Chegamos em casa. Mais um dia e pouco perdidos em casa e já voltamos ao trabalho. Sobra para mãe, sogra, nora, prima, cunhada ajudar nos primeiros dias com a mulher e a criança. Somos substituíveis. E não deveríamos ter esta sensação. A mãe precisa de ajuda, muito mais do que quando estava gestando. O pós-filho é muito mais importante do que o pré-filho.

            O pai precisa ajudar a cuidar do bebê, arrumar a casa, lavar louças e roupas, varrer o chão, correr no supermercado ou farmácia, fazer comida para a mãe/mulher, atender a porta, fazer sala para as visitas, passar o café, preparar o chimarrão. Mas sabe por que o pai não faz isso? Porque está trabalhando. Não pode ajudar a mãe no momento em que ela mais precisa, pois está na rua.

            O parlamentar que criou os três dias era apenas filho e não queria ser pai. Criou a tão merecida licença para a mãe, mas esqueceu da importância do pai. Quem sabe naquela época o pai não cuidava ou trocava fraldas. Deixava apenas a mulher fazer. O pai moderno faz isso e muito mais. Caso não o faz, deveria. Pai deve estar ajudando e não atrapalhando nesta importante fase.

            Tem pai que não é nem filho. Pai tem de estar junto do filho, ajudar. Pode não estar junto da mãe, mas o filho tem de sentir a presença do pai. A mãe deve permitir este momento ao pai que quer ser pai. Pode não querer ser companheiro, mas ser pai deve. Pai não é marido, nem namorado. Pai é quem cuida do filho. E isso o pai deve fazer. Ser namorado ou marido? Bom, esta conversa é outra.

Ouvindo: Nothing Else Matters do Metallica. 

domingo, 18 de novembro de 2012

Na maior traquinagem


*** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, dia 04 de agosto de 2012. ***


Ouvindo: Hey Hey My My do La Renga.

            A tristeza das palavras podem não ecoar na reflexão subjetiva dos poemas de Manuel Bandeira, mas as lembranças exploradas pelo professor carioca no século passado trazem um sentimento de angústia. As recordações de outrora retomam o caminho em meio ao turbilhão de desejos que existem. Uma rápida passagem por um lado atinge outro tão longínquo. Os restos das lembranças reavivam o saudosismo, d´alguns anseios de retornar ao que em outra época foi interessante.

            Não quero inventar situações, tampouco gerar insinuações. Sonho em fechar os olhos e ver uma luz correr por entre as festas de uma porta entreaberta. A luz que não perpassa o sentido visual, mas resplandece sobre a curiosidade do que poderia ter ocorrido diferente. E se... ? Os olhos permanecem nublados sobre a névoa gélida que cruza um mar de recordações. Carregar um corpo para onde não desejar seguir, alimentar-se de uma esperança nebulosa. E se... ?


            As perguntas geram outras. Gerarão hipóteses e possibilidades capciosas. Não para induzir aos variados entendimentos, mas para não proporcionar. Para imaginar, fechar os olhos e recordar. O tempo passa como um avião supersônico. Ouve-se o barulho depois de já ter cruzado. O tempo não tem velocidade. Corremos na direção do relógio quando jovens, e tentamos fugir quando mais velhos. Quando temo 15 queremos que os 18 cheguem rapidamente. Aos 20 já queríamos os 25 pela mulher mais velha.



            Chega aos 30 e queremos voltar aos 25. Não, não!! Aos 20. Aos 20 está de bom tamanho. A voz esganiçada já sumira, a barba enche o rosto e a lâmina já se gasta com a terceira passada. Aquela barba mal feita já atrai a atenção da vizinha da frente, a calça rasgada faz parte da primeira fileira do roupeiro e os sonhos flutuam aos quatro ventos. Os sonhos permeiam os pensamentos até que chega a mãe e desliga o rádio. Recolhe o copo de refrigerante sujo e pede para recolher as meias do chão.

            Como é bom olhar para o passado e ver quantas bobagens foram feitas. As traquinagens de poucos anos antes causam sorrisos escamoteados, aqueles de canto de boca. Um sorriso com desejo de repeteco. O tempo passou e as velhas gafes não voltam. Não como foram praticadas. Os dias passaram e as traquinagens já se transformaram em crimes, em safadezas, em situações que envolveram outras pessoas. O pai já não é mais chamado, tampouco a mãe. E se... ? Socorro!

            Não dá para voltar ao passado como na entrada perdida da marginal. Mesmo assim, o retorno causa a perda do tão temido e precioso tempo. Estes retornos causam prejuízos. Aqueles instantes de antes já se foram; sumiram em meio aos desatentos, desalentos, devaneios; desvio.  Quanto mudaria um retorno? Do que há neste agora, no passado teria a mesma validade? A importância dada neste agora poderia ser a mesma da traquinagem do passado? O ser de agora é demais importante.

            Tento imaginar como seriam meus dias sem o ser que transformou minha vida. Cerro minha visão, para inibir a entrada de luz, e tento, sem sucesso, imaginar. Não consigo. Um ser tão pequenino mudou minha vida, minha concepção de vida, minha visão sobre a vida, o som da minha vida. Minha vida é muito mais rock and roll hoje do que foi no passado. A minha filha é a banda mais importante da minha vida. A minha melhor e mais bem feita traquinagem. Neste caso, não existe o “e se... ?”

Ouvindo: She do Kiss. 

sábado, 3 de novembro de 2012

A cerveja


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste - dia 29 de julho de 2012. **

Ouvindo: Seven Nation Army do The White Stripes.

Garçom, traz uma cerveja. Qual? Qualquer uma. Ah! Mas esta não tem. Então, caramba, traz aquela que tiver que você preferir. Mas, senhor, a que eu gosto não temos. Então traga para eu beber aquela que você não gosta. Mas gosto de todas, senhor. Apenas quero uma cerveja, garçom. Não sou garçom, senhor. Mas então quem é você? Sou atendente de balcão. É você quem serve a cerveja para os clientes? Sim, sou eu, senhor. Mas então qual a diferença para o garçom? Nenhuma, senhor.

Olá companheiro, vem sempre aqui? É a primeira vez. E de onde você me conhece? De lugar nenhum, parceiro. Nunca o vi antes. Mas qual a intimidade que dei para você me chamar de companheiro? Nenhum, amigão. Está de sacanagem para cima de mim? Claro que não, somos quase irmãos. Mas nem conheço você, tampouco o vi antes. Frequento todo o dia aqui e notei que conversava com o garçom. Somos quase irmãos aqui no bar. Amigo de um é amigo de todos. Só não dividimos mulher.

Quem é aquela mulher naquele canto? Você pergunta para que eu responda? Claro. Caso não quisesse resposta eu não perguntaria. Ah! Melhor assim. Então? Então o quê? Vai responder? Mas responder o quê? Nada. Esquece. Mas agora não consigo esquecer. Mas se não quisesse nada por qual motivo perguntou? Para ouvir a resposta, ora bolas! Mas que resposta? Da pergunta que o fiz. Ah! Sobre a resposta. Isso, da pergunta. Mas qual era a pergunta?

Mas quantos  mas. Cansei dos  mas. Quero uma resposta. Mas qual a pergunta? Qualquer uma, mas responda. Mas como responderei se não sei qual a pergunta. Quer saber sobre os dias que recolhem o lixo aqui na rua? Não, isso não. Mas então o que o senhor deseja? Quem era a mulher daquela mesa no canto? Qual mesa do canto? Aquela que tem a mulher sentada. Mas não tem mulher no canto. No outro canto, garçom. Mas ela foi embora, senhor.

Estão falando sobre qual assunto, amigão? Não sou seu amigo. Mas agora somos. Nunca o vi antes. Mas já conversamos antes. Quando? Antes, quando cheguei. Isso significa que somos amigos? Claro. Desde quando? Desde antes. Mas quando antes? Na hora que cheguei. Você chegou faz pouco. Sim, eu sei. Sabe do quê? Quando cheguei. Mas e por que veio aqui? Sempre venho aqui. Fazer o quê? Ver os amigos. Mas não sou seu amigo. Agora somos. Somos o que, parceiro? Viu? Ah!!!

Mas garçom, desculpa, atendente, quem era aquela mulher sentada no canto? Qual mulher? Aquela, sentada na mesa do canto, e que foi embora? Não vi, senhor. Mas por que não falou antes? Antes quando, senhor? Antes de ela ir embora. Mas não a vi indo embora. Ela já veio antes? Sim. Quando? Pouco antes de o senhor chegar. Mas antes disso ela já veio aqui? Aqui onde o senhor está? Sim, aqui. Não, aqui não. Foi a primeira vez dela? Não. Não o quê? Ela vem sempre. Aqui? Não, na mesa do canto.

Conversam sobre o que meus companheiros? Sobre nada. Mas vi vocês conversando, amigão. Não sou seu companheiro. Então, amigo? Também não. Entendi, parceiro. Isso também não. Não o quê? Ah! Esquece? Mas tenho uma memória boa e não esqueço. Não esquece o quê? Tudo. Esquece tudo? Não esqueço nada. Sobre o que? Sobre o que conversavam. Nada de importante. Mas tudo que vem dos amigos é importante. Mas não sou seu amigo. Claro que somos. Ah!!!


Vou para casa. Tchau! Vai fazer o quê? Não importa. Claro que importa. Somos amigos. Não somos. O senhor quer ainda a cerveja? Que cerveja? Aquela que eu gosto. Perdi a vontade. Mas porquê? Você disse que não tem. Tem sim. Mas por que não disse antes? O senhor queria aquela que eu gosto, mas não tem. Mas você disse que tem. Tem cerveja sim. Mas então? Então o quê? Qual cerveja? Qualquer uma. Vou para casa ver minha filha. E a cerveja? Esquece. Mas ele não esquece. Esquecer do quê? Ah!!!

Ouvindo: Something In The Way do Nirvana. 

domingo, 7 de outubro de 2012

Ao futuro

** Coluna publicada no Diário do Meio Oeste - edição do sábado, 06 de outubro de 2012, véspera das eleições municipais. **


Ouvindo: Forever Changing do Renaissance.

            Pode parecer que é algo rápido, de pouca importância, a ser feito por obrigação, imposição de alguém. O dia de escolher quem nos representará não é sem importância. São estes que escolherão quase tudo que poderá, ou não, mudar onde vivemos. Escolheremos prefeito, vice e vereadores. Muitas pessoas se apresentam como “ateus da política”, pois são descrentes em razão de todo nosso passado. Concordo!

            Devem estar desconfiando até da sombra. Mas nada há o que fazer, a não ser pensar, refletir e tentar escolher os melhores. Nem sempre os bons ganham, como nem sempre os ruins perdem. É uma metáfora para externar algo que todo cidadão deve ter: a preocupação coletiva. O Brasil pode começar a mudar quando pensarmos no coletivo ao individual. Nem sempre acertaremos, mas o devemos tentar.

            A forma de arrependimento é pensar, mais claramente, amanhã. Tente recordar em quem votou no passado. Merece seu voto novamente? Então vote. Não merece? Então, não vote. Muito simples. Seja a primeira ou a décima vez do candidato, é a mesma coisa.  Seu voto vale o mesmo que o meu. E o meu voto tem um valor que ninguém consegue pagar. E o seu, quanto vale?

Devemos fazer a nossa parte e deixar que todas as instâncias da Justiça cumpram os deveres que a própria lei determinou. É um momento turbulento, caloroso, em que os nervos e anseios afloram. Mas, o desejo de todos, é que seja um domingo de paz, tranqüilo, calmo. Quem sabe um sol entre nuvens apareça, algumas pancadas de chuva. O seu trabalho, neste domingo, é sair de casa e escolher o nosso futuro.

Espero que você vote bem, pois o seu voto, junto do meu, decidirá o nosso futuro. Quando faço em nosso, estou pensando na minha vizinha, no meu vizinho, no bebê do outro lado da rua, do policial que está trabalhando, da médica de plantão, dos servidores incumbidos de fiscalizar o processo, do senhor de idade, da criança na escola, da minha filha. Ah! Aí que entra minha maior preocupação: minha filha.


Eis a prova do meu voto de hoje (07-10-2012) 





E é por este motivo que desejo que os melhores sejam eleitos pela maioria. Que seja feita a vontade do povo brasileiro. Quero que boas pessoas ocupem os lugares, pois desejo que minha terra seja boa de se viver, que minha filha possa crescer em um local bom, que a nossa comunidade seja agradável, se desenvolva e proporcione o que a nossa Constituição Federal determina. Sei que tudo não virá, mas um pouco já basta.

Decidir a nossa vida não é tarefa fácil. Mudar, muito menos! Imagine a ansiedade do ganhador da Mega Sena, aquele sujeito que faturou R$ 50 milhões, no domingo. Tente imaginar. Sabendo que tem de esperar a abertura do banco, na segunda-feira, para retirar o prêmio. Deve roer todas as unhas das mães e dos pés. Dormir?  Apenas com calmante ou muito chá de camomila.

A ansiedade bate. A angústia amedronta, causa pânico. A aflição pela definição aumenta. Mas o domingo passará. Quem sabe um pouco diferente dos anteriores, mas passará. Algum momento estes sentimentos atribulados cessarão. Desejo boa sorte para você, pois tivemos muitos dias para refletir. E espero que o faça de coração, pois saiba que muitas pessoas dependem de nosso trabalho, amanhã.

Ouvindo: We Can Run do Greatful Dead.

terça-feira, 2 de outubro de 2012

O tempo

** Coluna publicada na edição do dia 21 de julho de 2012 no Diário do Meio Oeste. **


Ouvindo: Time do Pink Floyd.

Quanto tempo o tempo tem? Alguns filósofos afirmam que são as pessoas que fazem o tempo. Cientistas atestam que o tempo é um cálculo controlado pelo Tempo Universal Coordenado, baseado na rotação da Terra e corrigido pelos relógios atômicos. Os dois relógios atômicos brasileiros usam Césio 133 e estão no Observatório Nacional, no Rio de Janeiro. O tempo, aqui, é diferente do tempo no Japão.

Aqui é dia, lá é noite. Caso for viajar, deve acertar o tal do relógio biológico. Leva uns dois dias até acertar os ponteiros brasileiros com os japoneses; não o relógio do pulso, mas o biológico. Durante a palestra da manhã você já estará bocejando. O tempo não espera ninguém. Ano passado éramos mais jovens; amanhã já seremos mais velhos. Piada? Quem sabe!

O tempo passa e não avisa. Não olhamos os sinais dizendo que o tempo está passando. Apenas notamos quando olhamos para o relógio. E quem não o tem? O tempo é importante para quem não se preocupa com o tempo? Provocação sobre a importância de alguns números em nossas vidas. Levei poucos meses para me preparar para algo que não era preparado havia 30 anos. Aliás, ainda estou despreparado. Rugas!

Passarão vidas até me preparar. Apenas a mãe se prepara. Ou o tempo a prepara? O tempo é vital e tem peso exacerbado sobre nossa existência. Temos tempo para tudo. O tempo modifica, corrompe, cria, destrói, desmonta, aflige, afeta, aterroriza. Quanto tempo eu tenho de tempo ainda? Não sei e nem quero saber. Calcular quanto tempo tenho é algo que nem quero saber. Receio o saber.

Faz um ano que começamos um projeto diário. O tempo era nosso inimigo (ainda o é). Mas conseguimos contornar os números a trazer o que você precisa tomar ciência. Dividia o tempo entre começar a me imaginar como pai e com a correria do dia a dia. Os ponteiros fugiam, se dispersavam no vácuo gerado pelo tempo. Tudo parava. Tal qual o “pause” no filme antes do beijo do casal sofrido. Beija ou não?

No fundo tudo tem o tempo. Temos o tempo sob nosso domínio ou não? Até porque o tempo é feito por nós. Somos nós quem o vivenciamos. E o tempo passado foi bom? Ah! Foi sim, senhor! Os últimos 12 meses do tempo foram divinamente bons, proveitosos, iluminados e rápidos. Rápidos? Passaram voando como a águia em busca da sua presa. Vupt!



Nem vi o tempo me acenar. Quando vi, era o tempo batendo na porta e avisando do aniversário. Queria correr, mas não dava. Ele persegue onde for. Nem dormindo ele desiste. Lá está o relógio a despertar o momento em que o tempo não tem importância, nos sonhos.  O segundo do sonho durou uma eternidade. Desgraçado do pedreiro que me acordou com marteladas no prédio vizinho! Tempo em que o tempo não existia.

            Este tempo é rejuvenescedor como minha filha assim o me fez. Por mais que o tempo tenha passado em minha vida, olho para o novo e o tempo se desfaz. É com o sorriso da minha pequenina que o tempo desiste de me perseguir e some como o vento pela noite gelada. Some e vai gelar o vizinho. Enquanto isso, o meu coração se aquece com o lindo tempo do sorriso e da sua gostosa voz.

Ouvindo: Blood Brothers do Iron Maiden.

sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Uma longa amizade


Ouvindo: Bohemian Rhapsody do Queen.

            Já sei qual seria minha maior frustração como um pai rocker. Mas tenho de tentar (sabendo que não conseguirei, tampouco farei esforço para isso) lidar com o que vier. Podem levar tudo embora, mas deixem meus grandes amigos por perto. São os únicos que estão sempre ali, perto, junto nos melhores e piores momentos. Várias foram as oportunidades em que recorri aos seus encantos e palavras para me serenar a alma.
            As vozes que ouvia em meu silêncio faziam-me rejuvenescer o espírito, quebrantar a mágoa, dividir a alegria e sorrir para o dia. Ainda não houve um gesto que me fizesse sentir a calmaria de um momento com meus amigos. Conheci-os muito cedo e ainda hoje preservo esta amizade, este pacto vital. Não me obrigaram a escolhas, pois não as me deram, muito menos as procurei.  

            O mundo oferece, todos os dias, oportunidade de conhecer outros amigos, mas recolhi-me aos meus velhos e inseparáveis companheiros de vida. Não os poderia trair. Trair esta confiança arrebataria oportunidades em que não quero vivenciar. O pouco que sou obrigado a suportar já extrapolou o sensato. Sabiam eles, antes mesmo de eu chegar ao mundo, que seria um amigo fiel e que poderiam contar com meu suporte.

            Alguns morreram nestes tempos. Nunca os lugares foram ocupados por outros. As cadeiras da mesa permanecerão vazias, como homenagem aos que foram; jamais serão esquecidos. A cada rodada são reverenciados, como revolucionários e como amigos. São aqueles que carregaram as mágoas e alegrias; nunca pediram nada. As palavras se fizeram verdadeiras ferramentas de inspiração.

            Alguns motivos da minha existência mudaram, mas nunca os amigos foram deixados de lado. Alguns entram e outros saem do trem. Os caminhos, em alguns casos, nunca mais se cruzarão. Contudo, meus velhos amigos sempre sabem onde estou e eu sei de onde eles estão. O velho lugar na mesa segue vago. Não para ser ocupado por outro, mas para se estender uma nova cadeira à mesa.

            Jamais ouvi um adeus. Apenas acenam e sinto o até logo. Eis que nunca os esqueço, tampouco eles. O abandono não é uma expressão conhecida ou praticada neste nosso relacionamento. De certa forma (e de forma certa) somos extremamente ciumentos. Sentimos que não podemos deixar outros intrusos invadir nosso espaço. Não que não podem acenar e dizer “hello”, mas não sentar à mesa.

            O círculo é fechado e a porta são poucos que a chave têm. O pacto é duradouro e rígido, tal qual o zircônio - um metal duro e muito resistente a corrosão. Dificilmente consegue ser corroído; corrompido. O laço estreito entre os integrantes desta mesa é muito estreito e próximo, profícuo. Nossa amizade perdura além-vida. Não é em uma vida que nos esquecemos dos que já partiram.

            A lembrança fica a cada nova rodada pedida ao garçom do bar. As cadeiras continuam vazias, mas com suas lembranças por todos os demais. Frustrado seria ter de dividir esta mesma mesa com a do lado. Frustrado seria eu em querer quem uma pessoa estivesse ao meu lado, na cadeira que já reservei, mas optar pela mesa colorida e sem amigos, insossa, ao lado. Vida longa do Rock And Roll!

Ouvindo: Now You´re Gone do Whitesnake. 

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

O buraco do teto


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste - edição do dia 07 de julho de 2012.**

Ouvindo: Bon Jour do Salvador Domínguez.

Já deve ter escutado, ou lido, a expressão epifania. Descobrir o significado já vem junto de outras descobertas na vida. Quem sabe seria a localização da telha que faltava para cobrir o telhado. Aquele velho buraco, por menor que fosse, sempre era motivo de o fazer pensar em como cobrir. Cobria-o com um pedaço de madeira; não ficava bom. De fora, via-se que destoava das demais peças. Cobria com lona, mas também não gerava o sentimento de pertencimento.

Passamos anos após anos procurando, consciente ou inconscientemente, a tal da peça que falta. Alguns descobrem, outros morrem com esta lacuna. Esta telha pode ser uma pessoa, um trabalho, uma obra, o plantio de uma árvore, a publicação de um livro ou filme, o salvamento de uma pessoa, um beijo na mão do Papa, assistir o show do seu ídolo. A tal da telha pode ser encontrada no momento em que menos se espera. Pode morrer a procurar, sem encontrar. Não se busca, eis que a telha surge.

Ouvi, algum dia, a história do pequeno gato. O gato-pai olhava o filhote e analisava-o correndo atrás do rabo. Quem já viu isso em gato ou cachorro, sabe. Fica girando e girando até cansar. Até que cansou e o gato-pai disse não ser necessário correr atrás, pois, quando se percebe, ele está sempre junto. Aliás, e bem perto. Alguns passam a vida correndo atrás e não localizam a telha que falta. Outros, sem procurar, descobrem a telha da cobertura.

E esta epifania veio depois de um momento de silêncio. A própria voz que me afastou, trouxe-me de volta. Tive de rastejar nos mais perversos sentimentos impregnados no meu íntimo para poder ter a claridade suficiente de olhar o restante do que continha e não apenas os resquícios do passado. Ao que acendeu a luz do corredor, não o conheço. Pode soar esquizofrenia, mas sempre há outro dentro de cada um. No momento da inópia, algo eclode do inconsciente.

Eis que o silenciar se tornou necessário para que a voz pudesse ser ouvida. Aliás, a voz não falou, ela obrigou a deixar a penúria de um estado. Foi um comando necessário para suprimir algumas telhas imperfeitas e recolocar as novas. O quebrantado foi substituído. Com a novidade, eis que outras vozes se apresentaram, indicando caminhos. Não houve a possibilidade de dois ou três caminhos, traçar dois ou mais ao mesmo tempo. É regra da Física: não podem dois corpos ocupar o mesmo lugar.

A escolha do caminho, mesmo sem o conhecer, literalmente, foi traçado mais com o sentimento de aventura (e guiado por placas de sinalização). Para confessar, com a informação de um que outro frentista de posto. Mas estas passagens foram necessárias para que a telha surgisse mais adiante. Como nas lojas que vendem azulejos em desuso, não tão comuns na região Sul do Brasil, mas que são muito úteis. O preço é caro, mas a necessidade de localizar uma peça única o faz valer a pena no contexto final.


A metáfora da telha pode ser usada por variadas formas ou até concepções. Depende da sensibilidade. Esta telha por ser qualquer coisa - mas qualquer mesmo. A minha telha tem nome, sobrenome, um cabelinho tipo pêssego cheiroso, e a voz mais gostosa de se escutar no mundo. Foi esta voz que me fez acordar diante das minhas profundezas, a minha epifania. Sei que aos poucos vai tomando forma, os sons vão se assemelhando aos nossos, mas, com justiça, superou a Chrissie Hynde.

Ouvindo: Something To Believe In do The Pretenders.   


PS: Acima, a minha telha que faltava.

segunda-feira, 17 de setembro de 2012

O sol sempre brilhará


** Coluna publicada no Diário do Meio Oeste do dia 15 de setembro. **

Por Iaran de Oliveira


Ouvindo: Sun do John Lydon.

Desde que os nossos antecessores (muitos deles vivos) decidiram que o Brasil teria o Presidencialismo como Sistema de Governo, através do Referendo de 1963, queriam que a democracia fosse levada a cabo, ou seja, que o cidadão pudesse escolher, de forma livre, os seus representantes legítimos. Em outubro próximo, exatamente no dia 7,  iremos às urnas para o exercício de um poder que só nós, cidadãos eleitores, temos: o de votar.
A Democracia não pode ser entendida apenas como o direito de votar em que preferir, mas sim, ter a oportunidade de participar, opinar, sugerir, torcer, vibrar, desejar, querer e fazer. Contudo, isso tudo de forma livre, sem prejudicar este ou aquele. No artigo 3º da nossa Constituição Federal(CF) está escrito: “I - construir uma sociedade livre, justa e solidária”. A expressão livre, contudo, seguindo o próprio entendimento jurídico, não é absoluta ou o “fazer o que quiser”.
Estamos em dias tensos, quentes. Afloram nos cidadãos os anseios pela vitória (ninguém gosta de perder) de um determinado partido ou candidato. Porém, como ocorre a cada dois anos (oscila entre escolha de prefeitos e , depois, presidente e governadores) as eleições ocorrem; E PASSAM. Este período de campanha é passageiro, tal qual o pleito. Todo campeonato tem início, meio e almeja o final (poucos os que pararam no meio do caminho). Iniciam e terminam.


O que isso quer dizer? Quero dizer que as eleições passam. Mas a eleição não deve ser motivo de guerra, de briga, de criar inimizades, travar debates homéricos em mesa de bar, brigar com o vizinho, atravessar a rua motivado por tal candidato no mesmo caminho. Deve ser um momento para analisar, pensar, refletir, planejar o nosso (teu e meu) futuro.  É momento de avaliarmos bem quem queremos que nos represente. Isso é o que se pretendeu quando definiram nosso Sistema de Governo.

As eleições passam, mas as pessoas ficam. Estar no poder é passageiro. É por um período.  Há a possibilidade de seguir sim; com nova opção do eleitor. O pleito passa, os gestores passam, mas as pessoas ficam. As p-e-s-s-o-a-s! E é isso que deve prevalecer: a pessoa, o ser humano. Não podemos privilegiar a discórdia, a briga, a insensatez, a raiva, a inimizade. Devemos lembrar que este tempo passa, tal qual um temporal. Os políticos vem e vão, mas as pessoas ficam.
Quando nosso time é derrotado pelo time do amigo não é motivo de briga. Do contrário, durante o jogo torcemos, conversamos, vaiamos, comemoramos e, no final, saímos abraçados. A vida prossegue. O jogo acaba, mas as pessoas continuam. Nós seguimos. No próximo, quem sabe, seja o momento de nós vencermos, do amigo rir e o ciclo continua. Não podemos deixar que esta Democracia, a liberdade de escolha, possa interferir na nossa relação de amizade.
Estamos em período eleitoral, mas para decidir nosso futuro. Não estamos em uma guerra, lutando pela vida. O que quero exprimir é que as pessoas não devem criar inimizades apenas por convicções políticas. Cada um decida, opte, escolha, defina. Não se pode deixar que integrantes equipes distintas deixem de se olhar, de se falar, de se cumprimentar em razão de uma escolha. Mesmo que de times diferentes, o desejo é que a Democracia prevaleça; o sol nascerá novamente amanhã.
Não quero ensinar a minha filha a virar o rosto para um colega, pelo simples fato de o pai ou mãe gostar de sertanejo ou de pagode, ou de bandinha, ou de eletrônico. Não gosto, é fato, mas isso não pode interferir na relação entre os dois. Quero que ela seja livre, respeite o colega. Que respeite o colega pela opção que ele ou seus pais fizeram. De verdade, quero caminhar no dia 8 e cumprimentar aquele que me excluiu do Facebook, voltar a apertar sua mão; sorver uma chávena de café juntos. Viveremos!

Ouvindo: Sunday Bloody Sunday do U2.