quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

As tias


** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste, dia 22 de setembro de 2012. **


Ouvindo: Wherever You May Go do David Coverdale.


           
Professora não é tia de ninguém. Professor também não. Aliás, deixa-me corrigir, professora é tia apenas dos sobrinhos e tio da mesma forma. Não sei o motivo que levam os pais a tirarem os educadores para tio e tia. Professor é educador. Pode ser tio ou tia, mas fora da sala. Enquanto profissional, é professor. Não sei qual o motivo que levou alguém, em um passado desconhecido, a nominar de “tio e tia”.

Da mesma forma como nominam o delegado, juiz, advogado, médico de doutor. Doutor é aquele sujeito que estudou muito e finalizou o doutorado. E foi um caminho de muito estudo até obter a aprovação da banca. O trabalho teve de ser feito com dedicação e pesquisa até passar pelo crivo de gente muito crítica. O doutorado é o tal do PhD, coisa difícil de se obter; requer muito estudo.

Sempre há aqueles afirmando que não devemos mudar de hábito. Porém, a nossa cultura muda. Muda a cada dia. Anos atrás usávamos papel e borracha para somar. Hoje, são os computadores. As próprias calculadoras já estão sendo descartadas. Não que o hábito ou a cultura sejam desnecessários. Pelo contrário, são importantes para nossa vivência harmoniosa em sociedade. 

Velhos hábitos, como chamar o pai e mãe de senhor e senhora, por exemplo, é um hábito que mantenho desde sempre. Não apenas comigo, mas muitos outros. Apenas respeitar as pessoas, em suas funções, já é de bom tamanho, mas não superdimensionar uma função ou cargo. Respeitar é bom, mas bajular já é questionável. Apenas lembrei da professora da escola. Estudou para ser tia?

Apenas pretendo colocar mérito para quem merece o mérito. Redundante? É para ser mesmo. Mudar hábitos ou costumes sempre causa desconforto, mas, algumas vezes, este desconforto se faz necessário. Deixa para chamar de tio ou tia o irmão do teu pai ou mãe, e chama quem educa o filho de professor ou professora. Tenho certeza que ela ou ele nunca disse nada, mas ficará bem feliz ao escutar esta palavra.
Não quero ouvir minha filha na escola chamando a professora de tia. Da mesma forma não quero que ela me chame de “tu, cara, maluco, ô meu”. Um pai ou papai soaria tão melhor. Sou antiquado com isso, um costume que não perdi. Mesmo com todas as mudanças que são possíveis, algumas podem permanecem. Quem sabe me chame de professor dentro de algum tempo, mas deixa chegar o momento.

Respeitar os demais sempre é bom, até motivado pelo respeito que gostaríamos que nos fosse dispensado. Não pelo cargo ou função que exerce, mas pelo respeito ao próximo, seja quem for. É bom bonito e gostos de ouvir a educação das pessoas, sentir a educação e respeito nas conversas, ver o respeito nas palavras e ações. Não é pedir demais um senhor ou senhor e muito obrigado.

Lembro que escutei uma vez alguém contar que o chamar alguém pelo nome funciona melhor para abrir uma porta. Dizia ainda: tenta bater em uma porta e gritar qualquer coisa. Dificilmente alguém abrirá.  Mas tenta chamar a pessoa do outro lado pelo nome. Ao menos, ouvirá outra pergunta: “o que quer?”. Pode não resolver, mas funciona que é uma beleza.

Ouvindo: Falling In And Out Of Love da Lita Ford.  

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