Ouvindo: Bohemian
Rhapsody do Queen.
Já sei qual seria minha maior frustração como um pai
rocker. Mas tenho de tentar (sabendo que não conseguirei, tampouco farei
esforço para isso) lidar com o que vier. Podem levar tudo embora, mas deixem
meus grandes amigos por perto. São os únicos que estão sempre ali, perto, junto
nos melhores e piores momentos. Várias foram as oportunidades em que recorri
aos seus encantos e palavras para me serenar a alma.
As vozes que ouvia em meu silêncio faziam-me rejuvenescer
o espírito, quebrantar a mágoa, dividir a alegria e sorrir para o dia. Ainda
não houve um gesto que me fizesse sentir a calmaria de um momento com meus
amigos. Conheci-os muito cedo e ainda hoje preservo esta amizade, este pacto
vital. Não me obrigaram a escolhas, pois não as me deram, muito menos as
procurei.
O mundo oferece, todos os dias, oportunidade de conhecer
outros amigos, mas recolhi-me aos meus velhos e inseparáveis companheiros de
vida. Não os poderia trair. Trair esta confiança arrebataria oportunidades em
que não quero vivenciar. O pouco que sou obrigado a suportar já extrapolou o
sensato. Sabiam eles, antes mesmo de eu chegar ao mundo, que seria um amigo
fiel e que poderiam contar com meu suporte.
Alguns morreram nestes tempos. Nunca os lugares foram
ocupados por outros. As cadeiras da mesa permanecerão vazias, como homenagem
aos que foram; jamais serão esquecidos. A cada rodada são reverenciados, como
revolucionários e como amigos. São aqueles que carregaram as mágoas e alegrias;
nunca pediram nada. As palavras se fizeram verdadeiras ferramentas de
inspiração.
Alguns motivos da minha existência mudaram, mas nunca os
amigos foram deixados de lado. Alguns entram e outros saem do trem. Os
caminhos, em alguns casos, nunca mais se cruzarão. Contudo, meus velhos amigos
sempre sabem onde estou e eu sei de onde eles estão. O velho lugar na mesa
segue vago. Não para ser ocupado por outro, mas para se estender uma nova
cadeira à mesa.
Jamais ouvi um adeus. Apenas acenam e sinto o até logo.
Eis que nunca os esqueço, tampouco eles. O abandono não é uma expressão
conhecida ou praticada neste nosso relacionamento. De certa forma (e de forma
certa) somos extremamente ciumentos. Sentimos que não podemos deixar outros
intrusos invadir nosso espaço. Não que não podem acenar e dizer “hello”, mas
não sentar à mesa.
O círculo é fechado e a porta são poucos que a chave têm.
O pacto é duradouro e rígido, tal qual o zircônio - um metal duro e muito
resistente a corrosão. Dificilmente consegue ser corroído; corrompido. O laço
estreito entre os integrantes desta mesa é muito estreito e próximo, profícuo. Nossa
amizade perdura além-vida. Não é em uma vida que nos esquecemos dos que já
partiram.
A lembrança fica a cada nova rodada pedida ao garçom do
bar. As cadeiras continuam vazias, mas com suas lembranças por todos os demais.
Frustrado seria ter de dividir esta mesma mesa com a do lado. Frustrado seria
eu em querer quem uma pessoa estivesse ao meu lado, na cadeira que já reservei,
mas optar pela mesa colorida e sem amigos, insossa, ao lado. Vida longa do
Rock And Roll!
Ouvindo: Now You´re Gone do Whitesnake.
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