** Coluna publicada no Jornal Diário do Meio Oeste - dia 29 de julho de 2012. **
Ouvindo: Seven Nation Army do The White Stripes.
Garçom,
traz uma cerveja. Qual? Qualquer uma. Ah! Mas esta não tem. Então, caramba,
traz aquela que tiver que você preferir. Mas, senhor, a que eu gosto não temos.
Então traga para eu beber aquela que você não gosta. Mas gosto de todas,
senhor. Apenas quero uma cerveja, garçom. Não sou garçom, senhor. Mas então
quem é você? Sou atendente de balcão. É você quem serve a cerveja para os
clientes? Sim, sou eu, senhor. Mas então qual a diferença para o garçom?
Nenhuma, senhor.
Olá
companheiro, vem sempre aqui? É a primeira vez. E de onde você me conhece? De
lugar nenhum, parceiro. Nunca o vi antes. Mas qual a intimidade que dei para
você me chamar de companheiro? Nenhum, amigão. Está de sacanagem para cima de
mim? Claro que não, somos quase irmãos. Mas nem conheço você, tampouco o vi
antes. Frequento todo o dia aqui e notei que conversava com o garçom. Somos
quase irmãos aqui no bar. Amigo de um é amigo de todos. Só não dividimos
mulher.
Quem
é aquela mulher naquele canto? Você pergunta para que eu responda? Claro. Caso
não quisesse resposta eu não perguntaria. Ah! Melhor assim. Então? Então o quê?
Vai responder? Mas responder o quê? Nada. Esquece. Mas agora não consigo
esquecer. Mas se não quisesse nada por qual motivo perguntou? Para ouvir a
resposta, ora bolas! Mas que resposta? Da pergunta que o fiz. Ah! Sobre a
resposta. Isso, da pergunta. Mas qual era a pergunta?
Mas
quantos mas. Cansei dos mas. Quero uma resposta. Mas qual a pergunta?
Qualquer uma, mas responda. Mas como responderei se não sei qual a pergunta.
Quer saber sobre os dias que recolhem o lixo aqui na rua? Não, isso não. Mas
então o que o senhor deseja? Quem era a mulher daquela mesa no canto? Qual mesa
do canto? Aquela que tem a mulher sentada. Mas não tem mulher no canto. No
outro canto, garçom. Mas ela foi embora, senhor.
Estão
falando sobre qual assunto, amigão? Não sou seu amigo. Mas agora somos. Nunca o
vi antes. Mas já conversamos antes. Quando? Antes, quando cheguei. Isso significa
que somos amigos? Claro. Desde quando? Desde antes. Mas quando antes? Na hora
que cheguei. Você chegou faz pouco. Sim, eu sei. Sabe do quê? Quando cheguei.
Mas e por que veio aqui? Sempre venho aqui. Fazer o quê? Ver os amigos. Mas não
sou seu amigo. Agora somos. Somos o que, parceiro? Viu? Ah!!!
Mas
garçom, desculpa, atendente, quem era aquela mulher sentada no canto? Qual
mulher? Aquela, sentada na mesa do canto, e que foi embora? Não vi, senhor. Mas
por que não falou antes? Antes quando, senhor? Antes de ela ir embora. Mas não
a vi indo embora. Ela já veio antes? Sim. Quando? Pouco antes de o senhor
chegar. Mas antes disso ela já veio aqui? Aqui onde o senhor está? Sim, aqui.
Não, aqui não. Foi a primeira vez dela? Não. Não o quê? Ela vem sempre. Aqui?
Não, na mesa do canto.
Conversam
sobre o que meus companheiros? Sobre nada. Mas vi vocês conversando, amigão.
Não sou seu companheiro. Então, amigo? Também não. Entendi, parceiro. Isso
também não. Não o quê? Ah! Esquece? Mas tenho uma memória boa e não esqueço.
Não esquece o quê? Tudo. Esquece tudo? Não esqueço nada. Sobre o que? Sobre o
que conversavam. Nada de importante. Mas tudo que vem dos amigos é importante.
Mas não sou seu amigo. Claro que somos. Ah!!!
Vou
para casa. Tchau! Vai fazer o quê? Não importa. Claro que importa. Somos
amigos. Não somos. O senhor quer ainda a cerveja? Que cerveja? Aquela que eu
gosto. Perdi a vontade. Mas porquê? Você disse que não tem. Tem sim. Mas por
que não disse antes? O senhor queria aquela que eu gosto, mas não tem. Mas você
disse que tem. Tem cerveja sim. Mas então? Então o quê? Qual cerveja? Qualquer
uma. Vou para casa ver minha filha. E a cerveja? Esquece. Mas ele não esquece.
Esquecer do quê? Ah!!!
Ouvindo: Something In
The Way do Nirvana.
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