sábado, 31 de março de 2012

Um céu mais feliz

Ouvindo: I'd Do Anything For Love (But I Won't Do That) do Meat Loaf.

Nunca dormi tão mal como nos últimos dias. Porém, são as noites mal dormidas mais contentes da minha vida. Não, não fui fazer festa, ir para a balada, cair na gandaia. As noites de sono interrompido são em função dos gracejos da minha filha. Incrível, mas ela não chora. Até que a minha gatinha deu um “miadinho” no meu colo, mas era vontade de comer. Apenas os sons dos lábios e das mãozinhas.

Resta levantar da cama, mesmo sem óculos e enxergando meio torto, pegar a pequenina no berço e levar até o “restaurante”. Brinco, mas fica entre nós, pois a mãe não deve gostar deste ‘apelido’. Depois, volta ao sono. E dorme. E como dorme. Aliás, come e dorme. E sabe, tem a quem puxar. São coisas que todos gostamos: comer e dormir. Coisa mais gostosa do mundo.


É uma experiência incrível. Creio que muitos não tiveram esta oportunidade de vida. Tive com minhas duas sobrinhas, mas não é a mesma sensação. Tem momento em que dá medo de segurar. De um ser tão frágil, pequeno, com olhos curiosos perambulando de um lado ao outro, das pernas inquietas, dos bracinhos macios e das mãozinhas desenhadas. É único e sei que é um tempo que passa correndo.

Dei o meu primeiro banho. E foi rápido: uns 12 minutos. Sério, o banho, em si, foi rápido e gostoso, mas aquela safada da roupinha bonita não dava certo. Ela olhava para o bracinho e parecia que não queria entrar.  As duas que me fiscalizavam apenas diziam: “rápido para ela não se esfriar o corpo”. Calma gente, mas foi primeiro banho na minha que dei em minha filha e foi ótimo. A fralda foi bem mais simples de colocar.


Brincadeiras de lado, é bom demais. Sinto uma ânsia tremenda de terminar o que tenho de fazer e voltar para casa. Apenas olhá-la dormindo ou assisti-la enquanto se movimenta, com paciência e ternura, como musica clássica. A pressa me foge da consciência. Sei que nunca mais a vida será a mesma. Pode ser apenas mais um número para o cadastro global, mas, para mim, é a minha vida!

            Esperamos muitos meses. Contamos os dias. Imaginamos o rosto. Tentamos adivinhar a cor dos olhos e do cabelo, o peso ou o tamanho quando chegasse ao mundo. Tenho vontade de chorar quando lembro o que minha mulher disse que ouviu no centro cirúrgico, após ela deixar o seu ambiente de desenvolvimento, “Seja bem-vinda Sofia!”. Foram as primeiras palavras dos médicos que participaram do parto.

            Já me chamam de pai fresco, pai novo, senhor, paizão, pai babão, bajulador. Sim, isso e muito mais. Aliás, adoro e tenho orgulho de cada um destes novos apelidos. Mas sabe o interessante? Poderei sair na rua com uma bolsa rosa e não ser visto com outros olhos. Até dirão: que bonita a sacola do cara. Claro, com orgulho, é da minha filha. Adorarei levar aquelas muitas sacolas para onde for, mesmo que na esquina.

            Obrigado pelos elogios e aceito todos eles. E são verdadeiros. Ela é linda. Mais linda do que uma Barbie novinha. Desde a semana passada, tenho a impressão de que o mundo ficou mais lilás. Não pela decoração, mas pela tonalidade que meus olhos vem e meu coração sente. Nem mesmo o calor danado que faz deixa-me preocupado e cansado. O mundo, aos meus olhos, está mais feliz.

Ouvindo: The Flying Lip Lock do Teg Nugent.

quarta-feira, 28 de março de 2012

Eles calçaram bem

***  Pessoal, cabe recordar que os textos são antigos, das colunas que escrevo semanalmente no Jornal Diário do Meio Oeste. Sei que muitos não leram todas, tampouco se interessaram, mas é quase um roteiro, uma novela em forma de literatura jornalística. Quiçá, um desabafo sobre algum tema abstrato, mas real. ***





Ouvindo: God Gave Rock and Roll To You do Kiss.



Minha filha nasceu na quinta-feira. Foram quase 38 semanas e três dias. É um período de tempo considerável, angustiante, confuso (às vezes), preocupante, mas, quando a vida aflora, abundantemente inexplicável. Quando segurei minha filha pela primeira vez, confesso, colapsei. Felicidade, agonia, fausto, medo, receio, gáudio, enfim, uma miscelânea de sentimentos confusos e sem explicação precisa.

Não consegui ‘ler’ as fotos da revista enquanto aguardava. Foi tudo muito rápido. Deu tempo de olhar por uma porta com vidros foscos e tentar voltar para um sofá de espera. Neste meio tempo, quando pegava uma revista para “ler” as fotos, algum pequeno choro ouvi de fundo. O barulho da enceradeira se confundia, mas eu senti que era ela. A minha filha viu a luz!

Naqueles poucos minutos que se passaram depois deste som, tive de esperar. A angústia e preocupação deram lugar ao vazio. Quando o pediatra chamou, nem terminou de dizer o nome dela e já estava eu. Nem vi o rosto do médico, tampouco da enfermeira, apenas vi aquela menina, vestida com a mesma roupa que estava dentro do útero, e segurei-a. Foram os 15 segundos do vazio que senti.

Este é o vazio mais espetacular que a vida pode proporcionar. Nem a meditação do Dalai Lama me faria sentir tão bem como a ‘meditação’ proporcionada pela oportunidade de ver minha filha, conhecê-la depois de quase nove meses. A espera valeu mais do que a pena. Esta sim foi uma oportunidade única. A chance que o Pai do Céu me dispôs, me confiou, acreditou e proporcionou.

Hoje, mais do que ontem, sinto-me lisonjeado em dizer: sou pai! Na loja, a guria perguntou: “- Olá, qual o nome do senhor? Pode me chamar de pai que está super bom”. É muito gostosa ter esta sensação, esta função, este “trabalho”, seja lá o que for, ser pai. Ouvi não de um, mas de muitos pais e mães a gostosura que é ter um filho. Seja guri ou guria, filho com O ou com A, é a mesma emoção.

A espera foi recompensadora. É muito receio que se passa no tempo de formação, de espera. Os últimos dias não passavam, era o que pensava quando tentava dormir. Quando chegou, vi os quase nove meses em um piscar de olhos. Olhei pela janela do quarto, vi o sol lindo da quinta-feira já brilhando cedo, contemplativo, e agradeci. Seja lá como for meu ai do Céu, humildemente, eu agradeci.

Questionaram-me sobre como seria o desfecho desta história. Tive de pedir desculpas e dizer que não teria o final. Apenas pude dizer, orgulhoso e feliz, que as palavras de hoje seriam sobre o início e não o fim. A vida teve início para nós e não um fim. Antes, eram apenas especulações, expectativas, suposições. Mais do que nunca, este início nunca foi tão esperado.

E fico feliz em saber que todo dia 02 de fevereiro, do resto da minha vida, será o dia da alegria, do bolo. Será mais comemorado do que o Natal, Ano Novo, meu aniversário. Será o aniversário da minha filha, com bolo e refrigerante. Por fim, agradeço aos profissionais do Hospital Santa Maria, enfermeiras, médicos, técnicas. Obrigado para cada um de vocês, por nos cuidarem tão bem. Alguém deve lembrar dos sapatinhos. Pois então, eles serviram e são confortáveis. Narai Al Shackbur!

Ouvindo: Wherever You May Go do David Coverdale.

sábado, 24 de março de 2012

Woodstock

Ouvindo: Going Up The Country do Canned Heat.

            Queria eu ter nascido por volta de 1950. Caso isso tivesse ocorrido, teria dado um jeito de ir assistir ao Woodstock.  Teria lá meus 19 anos e, legalmente, “maior”. Poderia bater o pé com meus velhos e dizer: “Sou maior e estou indo para os esteites. Até breve!”. Claro que não seria bem como se visualiza, mas, como toda boa ficção, simples assim. Apenas para ver as bandas que até hoje eu admiro. That is it!


            Porém, hoje, um pouco mais idoso e avaliando como o mundo se comporta, pensaria duas vezes. Quem sabe assistiria pela televisão. Naquele gigantesco evento, realizado exatamente 11 anos antes d´eu vir a aparecer neste planeta, os pensamentos eram outros, distintos, quem sabe, mais verdadeiros. Aquela antiga trilogia do rock, mas que bem citarei. Mudaram-se os conceitos, as leis, os eventos, os ideais.

            Dificilmente daria aquele recado aos meus velhos. Bater a porta e seguir mundo afora, sem rumo, deixo para os escritores de livros, para os diretores de cinema, os roteiristas, enfim. Apenas fecho meus olhos e imagino, por uns segundos apenas, isso. Mas no fundo, nem me permitiria. Quando é algo que queremos, por vezes, não calculamos as conseqüências, enfim, coisa de criança.

             Mas hoje em dia, com os dias se aproximando, mais uns poucos safados dias que não passam para minha tão esperada filha nascer, ficaria **** caso ela chegasse e me dissesse aquela expressão da terceira frase do primeiro parágrafo. Nem pintada de rosa e com a voz dengosa de filha amada e querida. Quando o Brasil deixasse de lado a corrupção e vivêssemos honestamente e em segurança, eu, quem sabe, deixaria.

            Claro que os pais não colocam os filhos para eles mesmos, mas para o mundo. As pessoas pertencem ao mundo, não à um ou à outro. Mas, quando podemos tentar escolher o melhor para alguém, independente de quem seja, o faremos. São todas suposições da minha ansiosa mente. Apenas tento me colocar como filho, pois sou filho também, nos últimos meses com estas palavras e neste espaço.

            Sou filho e terei uma filha. Como filho, deu dores de cabeças aos meus velhos (mas não muitas). Quando se é pequenino, tudo é possível, tudo é fácil e nada custa. Tudo é de graça. “Paiê, me dá isso. Manhê, quero aquilo. - Não dá filho! Buááááá!” Não era assim com você? Mas, hoje, sabemos que não é bem assim. Nem nunca foi. Quem sabe estejamos num lugar com muitas pessoas. E pessoas são os piores seres vivos.

            Somos a única espécie que mata por dinheiro, rouba por diversão, come o que não precisa, joga fora comida, chuta o mendigo, bate na mulher e ouve pagode, sertanejo e bandinha. Palamordedio. Vivemos em um mundo inseguro e não queremos que, quem amamos, sofra algo na rua ou passe por dificuldades. A superproteção é inerente a vontade, ao desejo da liberdade do outro. Egoísmo.

            Convenhamos, não desejo cercar minha filhas por todos os lados e deixar a vida como um círculo fechado. Limites, são úteis e devem fazer parte. Contudo, onde é este limite? Onde inicia e onde finaliza? O que é bom pra mim é bom pra ela? O meu certo é o mesmo do dela? Como o exemplo inicial, do “estou indo”, quem sabe a minha alegria, possa ser a tristeza dela e vice-versa. Porém, se me convidar, irei junto...

Ouvindo: With A Little Help From My Friends do Joe Cocker. 

domingo, 18 de março de 2012

Novo ano

Ouvindo: Running Round do Warfield.

            Resta muito pouco tempo. O tempo de agora foi ontem. Tenho a impressão de que houve um salto no tempo. Quando fico a pensar no tempo, imagino ter sido ontem, algo bem recente, portanto. Ledo engano: o meu ontem faz oito meses. São dezenas de dias que se passaram, um após outro. Muito ocorreu, ao mesmo tempo que sinto que nada ocorreu.

            O Natal passou, o ano novo, os fogos e retornamos ao real, ao cotidiano. Interessante como todo final de ano sempre surge como se algo de mágico fosse ocorrer: encera o ano e tudo começa lindo e mudado, novo. Quando chega o dia 02 de janeiro, chegamos ao trabalho e avistamos que foi apenas mais um final de semana que passou e nada mudou. Mas a sensação de uma possível mudança é gostosa.

            Não sentia ansiedade até começar este ano. Porém, já sinto a ansiedade aumentar. Como a ansiedade de uma viagem tão planejada. Mudei sim. Pelo menos estou tentando. Não planejei. Apenas deixei algumas coisas com minha santinha, agradeci por tudo e segui meu rumo. Junto daquela ansiedade que contava linhas antes, vem a abstinência. E como é chata esta porcaria.

            Já engordei mais do que deveria, quem sabe mais do que a mãe da minha filha. Até no livro do bebê pede: quantos quilos engordou a mãe? E, pra me sacanear, quantos quilos engordou o pai? Resolvi parar de fumar e algo novo surgiu dentro de mim: a fome. Nunca senti tanta vontade de comer (qualquer coisa, principalmente doce) como estes últimos dias. A voltinha na janela também faz falta.

            Com isso, caminho pra lá e pra cá, ando mais nervoso do que o normal e sempre faminto. Sento alguns minutos a escrever e já fico pensando (e tentando lembrar) no que tem no refrigerador. E uma coisa que fico pensando neste momento: porque tudo que é bom engorda? Não me venha dizer que aquele chocolate sem açúcar é gostoso ou a Coca Diet é legal. Só química. A água nunca foi tão sem gosto como é hoje, mas ajuda.
            Não sei se fiz isso por minha vontade ou estimulado pela chegada da minha filha. O nome dela já foi escolhido, o quarto está todo pintadinho e lindo, os apetrechos todos organizados. Obrigado por isso tudo, Fá! Não comprei nada pra mim no Natal. Parar de fumar não é um presente para minha saúde, para eu aproveitar. Tento imaginar que fiz isso pelo mundo. Não garanto que nunca mais, mas estou me segurando bem.
            E o que faz esta dependência por um treco tão gostoso como é o cara ser tão boa? Não me critiquem por fazer apologia, pois não o estou. Apenas relato uma sensação, experiência pessoal. Fumar é bom sim. Há por nascer quem diga que não. Não pela dependência, mas pelo simples ato de fumar, aspirar aquela fumaça quente e depois jogar fora. Aquele que não gosta, paciência.

            Sempre há a questão de respeitar. Respeitar quem não fuma, como deve se respeitar quem fuma. A rua sempre tem dois lados. Bom para ambos. Esta de proibir fumo em tudo quanto é lugar é bobagem. Mais fácil proibir a produção, não é mesmo? Opa, um probleminha surgiria: os impostos. Contudo, acredito, apesar de tudo, que faço um bem pra minha saúde e para o bolso também. Ops, bateu a fome de novo...

Ouvindo: Growing Up  do John Sykes, Phil Lynott & Rick Wakeman. 

terça-feira, 13 de março de 2012

A delicadeza do homem

Ouvindo: Bohemian Rhapsody do Queen.

Pimenta nos olhos do outros é refresco. O homem sempre é um ser tão delicado com tudo, tanto quanto um elefante caminhando entre os pés de alface. Até poucos dias, todo bebê era igual. Com o rosto de joelho, inchadinho. Alguns até pareciam joelhos peludos, em razão da vasta cabeleira. Não me colocaram na frente do espelho quando nasci, mas não devo ter sido tão diferente.

Quando um amigo chega para visitar o filho do outro já vai dizendo: “mas que carinha de joelho mais fofa”. E olha que ele ainda foi delicado. O pai, todo feliz, ainda sorri e dá um abraço. A mãe, ainda bem que nem ouviu. Do contrário, alguma coisa sairia voando. Mãe é mais protetora. Homem é tão delicado e suave com este tipo de assunto, de visita, de momento.

Apesar de que ando repensando esta minha posição. A minha filha ainda nem nasceu e já ando pensando no que farei se alguém, bem contente amigo, me disser isso. Nem esperarei a mãe chegar. Alguma coisa voará em direção ao sujeito. Por isso a frase que inicia esta coluna. Quando é para os outros, é divertido. Com a gente, a história muda, a página vira e os personagens brigam.
Falta pouco. Quem sabe um mês, pouco menos, um pouco mais. Está fora do meu alcance. Sou favorável que ela venha quando ela pensar ser melhor. Que Pai do Céu converse com ela, ao pé do ouvido, e diga: “Filha, pode ir. Tem pessoas que te amam e te esperam ansiosas! Vai, que EU te protegerei!” Bah! Chorei! Não era para ser assim, mas sim um texto simples e alegre, contente, sorridente.



Mas, no fundo do meu coração, sei que Pai do Céu está pertinho dela, da mãe dela. Cuida tão bem delas quanto cuida de mim, desde que eu cheguei ao mundo. Como faz o mesmo com você. Devemos, nos obrigamos, a nos apoiar e acreditar em algo, independente de vermos e tocarmos ou não, de simplesmente, imaginar. Imaginar algo sem rosto, sem voz, sem forma, mas saber que existe.

O Natal, semana passada, foi mágico. Tivemos a oportunidade de bajular e sermos bajulados. Aliás, quase ninguém me viu. Nos últimos tempos, andam vendo apenas a pequenina. Mas nem me importo. Sei que estou perto e, quando der, alguém me abana e diz: “Bah! Nem te vi, mas que bom ver você!”. Foram momentos lindos, mágicos, mas rápidos. Um controle remoto e eu apertaria o pause ou o slow motion.

Pararia o tempo por alguns momentos mais e poderia aproveitar mais a minha turma de casa. Um para cada lado, de lados opostos, mas unidos pelo amor de família. E cada ano maior. Isso é o importante da vida: o amor de quem a gente ama. De amar, ser amado, brincar e sorrir. Chorar, se necessário, mas de emoção pela chegada e pela partida. E, dentro de alguns dias, chorarei pela chegada.

De qualquer forma, para você que está debruçado sobre o jornal, deixe seu vizinho, seu irmão, pai ou mãe, ler também. Quero desejar um 2012 lindo para você. Quero que quem estiver perto de você seja abraçado também. Um abraço conjunto, grande e gordo. Bem apertado de felicidades para todos nós no ano que chega em pouco tempo. Deus nos guie e ilumine novamente. Amém!

Ouvindo: Take It As It Comes do Ramones.

sexta-feira, 9 de março de 2012

O gato e eu



Ouvindo: Great Expectations do Kiss.

Como é bom chegar em casa e ir ver o quartinho da minha filha. Aliás, primeiramente ser recepcionado com um belo miado, dengoso e pedinte, e depois ver o quão belo está o espaço. Ainda falta uma coisinha que outra, mas o “grosso” está feito. Bem pintadinho, com os móveis instalados, o bercinho da cor do quarto, da mesma forma o roupeirinho e a comodazinha. Tudo ‘inho’ e ‘inha’ e quase igual.

Caso dependesse apenas da minha pessoa, não teria nada. Mulher é melhor nisso. Aliás, em quase tudo. Mais despachada com tudo. Deve ser o sentimento de mãe. Acredito que o homem já deixaria tudo pra última hora. Como naquele caso da torneira pingando. Vai e coloca um remendo provisório (e que deve durar a vida inteira) e depois vê como fica.


Até porque não podemos perder compromissos importantes como a novela das oito ou o filme do Chuck Norris. Nunca que um sujeito em sã consciência perderia um evento desta natureza. A torneira que espere! E com os apetrechos do bebê da mesma forma. Comento isso por mim e não generalizo. Não que eu seja um sujeito ruim e despreocupado com tudo, mas uma fralda é mais importante do que a roupa.

Graças ao meu bom Papai do Céu que tenho um ser único ao meu lado. Apenas sirvo de apoio e atrapalho quando posso. Aliás, o gato e eu. Enquanto a mãe arruma, os dois atrapalham. Tento me imaginar quando ela nascer. E falta pouco! No trabalho me pediram o que eu quero de presente de amigo-secreto. Sugestões. Coloquei fralda e discriminei tamanho e marca. Assim não erram.

No ano passado criei certa experiência com isso tudo.  Amamentação, modelo de fralda, o que não dar de comer, como fazer papinha, os horários para dormir, os ruídos, as visitas, se está frio ou calor pro bebê, coisas assim. Fiz um inesquecível (e com saudades imensas da minha sobrinha) curso intensivo. E sabe, sinto saudades gigantescas disso tudo.

Outra coisa, chega fim do ano e a nostalgia parece que aumenta. Chega a doer o peito. Sinto tantas saudades dos meus amores, as minhas sobrinhas. Caso já seja meio dengoso com elas, tento me imaginar com a minha filha. Família é tudo. Não que devamos estar sempre juntos, grudados, perto. Até porque isso parece que afasta um pouco. Quando há o reencontro, vem a emoção.
E é desta emoção que estou sentido falta. Sentir o cheirinho de minhas manas, meus cunhados, das minhas sobrinhas, da minha veia, do gato preto (e Negão), do meu pai. Tenho de ir tirar um tempo e ir visitá-lo no cemitério. Triste, mas é verdade e ponto. De qualquer forma, já sinto saudades de um ser que ainda nem chegou. Quero ver o rostinho dela e sentir o cheirinho bom (e não apenas em foto de ultrassom).

Estivemos em um estúdio para tirar as fotos ontem. As roupas forma escolhidas com cautela. Apenas tive de me endireitar e ficar bonito para mostrar pra ela quando começar a compreender tudo melhor, ficar maior. E fui com as camisetas que peguei especialmente para isso, de uma banda que ela ouvirá comigo. Uma pra mim e outra pra ela, pequena, mas não tanto quanto eu gostaria. Já estou ansioso pela chegada do Natal, do Ano Novo, da vida nova...

Ouvindo: A Hard Rain's a-Gonna Fall do Bob Dylan.


sexta-feira, 2 de março de 2012

Nomes

Ouvindo: Push do Matchbox 20

Fico imaginando o quão complexo é escolher um nome. Caso já seja difícil nominar um gato (o gato animal), imagine um ser humano, uma pessoa. Isso tem de ser muito bem pensado, pois seguirá o fulaninho(a) pelo resto de seus dias, ou até que a Justiça o liberte desta praga imposta pelo pai (ou pela mãe). Convenhamos, concordo com nomes diferentes, mas maltratar o rebento é 'pacabá'. Os pais deveriam ser presos!

Posso afirmar isso com razão. Meu nome é diferente. Sim, bem diferente. Existem poucos no mundo. A parte boa é que nunca tem nome repetido na sala de aula. Distinguem-se os estudantes pelo sobrenome. Mas além de diferente, o meu é looongo. São cinco nomes que fazem parte do meu nome. Complicado? Não, orgulhoso. 


Meu velho, que já se foi para o além, quis seguir o que meu avô (e seu pai, consequentemente) fez: homenageou os dois avós e as duas famílias. Resultado: cinco nomes. Lembro como se fosse ontem quando as professores reuniam todos os estudantes do turno no pátio e começavam a chamar os nomes, para formar a turma. Para não dar erro, convocavam pelo nome completo.

Chegava a minha hora e ia a professora: “Iaran Antônio Iz...”. Nem terminava de dizer e já estava eu gritando para parar que eu era o único na escola e ponto. Assim economizava-se tempo. E todos os anos foram assim. Chegou um momento em que a professora, quase sempre a mesma, já ficava me procurando e apontava. “Iaran, tu vais ficar nesta turma”. Creio que era a 7ª ou 8ª série.

E já ia bem feliz, olhando pra ver se tinha carne nova na turma. Até porque, quase todos se conheciam e poucos eram os novatos na escola. Uma transferência que outra. Hoje nem sei se mais é assim. Tive colegas que nos conhecemos no maternal e fomos até o antigo 2º Grau. Sempre juntos. Já os nomes eram sempre conhecidos. Mas nome diferente causa estranheza e é motivo do atual bullying.

No meu tempo nem era bullying. Era uma encheção do capeta mesmo. O sujeito com nome estranho, basicamente o novato, era já taxado com algum apelido. Mas depois passava. Ou pior, ficava. Meu velho me chamava todo dia de algo diferente: negão, macaco, jacaré, o titular Neno, filho. Dependia da lua do veterano. Mas era carinhoso e sinto saudades, mas deixa papo triste de lado. Hoje eu gosto do meu.

Pensando bem, escolher nome é uma responsabilidade eterna. Tem de relevar não apenas o que o pai, a mãe, os tios, a família gosta, mas o que o filho(a) pensará sobre isso. Já não é mais permitido colocar nome feio nos filhos. Ainda bem. Porém, deveria ser permitido que o filho(ao), quando maior de idade, possa escolher seu próprio nome. Seria um nome temporário.

Na pior das hipóteses, contrariaria os pais, mudaria todos os documentos, revolucionaria os sistemas de informação, mas deixaria uma pessoa com nome estranho (por culpa do pai ou da mãe) mais feliz. Importante é ser feliz e deixar que sejam felizes. Isso é o que temos de dar aos filhos: o máximo de felicidade possível. O nome da minha filha já está escolhido e espero que ela goste, como eu já a amo.

Ouvindo: Black Days do John Sykes.