segunda-feira, 7 de maio de 2012

Na beiradinha da ponte


Ouvindo: Immigrant Song do Led Zeppelin.


            Caso avaliemos a história da colonização, o município de Videira foi formado por imigrantes. Alguns diziam que já existiam nativos, quiçá bugres. Mas podemos dividir em meio a meio. De um lado do rio os italianos, do outros, os alemães. A maior parte chegou do Rio Grande do Sul. Não tiveram a chance de pesquisar na internet ou ligar para algum conhecido pedindo como era a localidade, tampouco visitar e avaliar melhor. De forma decidida, colocaram seus pertences sobre os lombos de cavalos e seguiram uma trilha, ainda inexistente.

            Foram obrigados a ceifar o mato que estava na frente. Os que saíram depois avistaram rastros pela frente. Heroicos desbravadores. Corajosas famílias. Pode-se dizer loucos? Loucos por andar tanto, em um lugar desconhecido, sob o mato fechado, os morros, os perigos das estradas que ainda não existiam. A civilização.  Loucos por seguirem suas vidas, mesmo que involuntariamente, e serem eternamente agradecidos pelo sofrimento e perseverança dos que os sucederam. Quem relembra e pensa nisso, mesmo que apenas por hoje, pode tentar imaginar o quão sofrido foi aquele tempo.  




            Videira completa hoje 68 anos. Cheguei aqui logo depois de celebrar os 62. Lembro que foi “ontem” quando desembarquei na rodoviária.  Passavam três minutos da meia-noite e nem sabia onde é que eu pegaria o táxi que me levaria à pensão. Tive a felicidade (e satisfação) de desbravar esta terra com tudo ajeitado: lugar para morar, trabalho e o pensamento de vir e ficar. Saí. Passei um tempo fora e retornei. Hoje, sou um videirense. Um gaúcho de Videira. Como muitos gaúchos, não negamos a raça, mas também não escondemos o orgulho daqui.


            Bebi da tão famosa água do Rio do Peixe. Morava de um lado da ponte. Até acostumar a atravessar o rio (e enfrentar meu receio por pontes) foram-se alguns dias. Ou muitos dias. Ainda caminho mais na beiradinha do lado da rua. Quando cruzo a ponte, recordo de como vim para cá. Vim sem conhecer, sem saber onde ficava, sem uma mínima noção de clima, de povo, de sotaques, de culturas, da economia. Como muitos, cheguei sem saber onde estava. Normal para qualquer imigrante. Oas poucos fui descobrindo, me encantando.

            Cheguei, gostei, bebi da água da Casan e finquei raízes. Aqui estou, depois de seis curtos anos. Parece que foi ontem que cheguei com minha mala. Agora, sou videirense. Um gaúcho de Videira. Não perdi minhas raízes, minha base. Apenas acrescentei minha base videirense. Prova disso é minha filha, minha família. Aqui se planta e aqui se colhe. Com chuva, com sol ou com granizo, aqui se planta e aqui se colhe todos os dias. Eu plantei o amor e colhi a minha filha, aqui, nesta terra que me acolheu tão bem e ainda o faz. Parabéns para todos nós.


Ouvindo: You're Gonna Need Someone On Your Side do Morrissey. 

Um comentário:

Fla, disse...

Sou imensamente grata por papai do céu te mostrar o caminho de Videira.