Ouvindo: Immigrant Song
do Led Zeppelin.
Caso avaliemos a história da colonização, o município de
Videira foi formado por imigrantes. Alguns diziam que já existiam nativos,
quiçá bugres. Mas podemos dividir em meio a meio. De um lado do rio os
italianos, do outros, os alemães. A maior parte chegou do Rio Grande do Sul.
Não tiveram a chance de pesquisar na internet ou ligar para algum conhecido
pedindo como era a localidade, tampouco visitar e avaliar melhor. De forma
decidida, colocaram seus pertences sobre os lombos de cavalos e seguiram uma
trilha, ainda inexistente.
Foram obrigados a ceifar o mato que estava na frente. Os
que saíram depois avistaram rastros pela frente. Heroicos desbravadores.
Corajosas famílias. Pode-se dizer loucos? Loucos por andar tanto, em um lugar
desconhecido, sob o mato fechado, os morros, os perigos das estradas que ainda
não existiam. A civilização. Loucos por
seguirem suas vidas, mesmo que involuntariamente, e serem eternamente
agradecidos pelo sofrimento e perseverança dos que os sucederam. Quem relembra
e pensa nisso, mesmo que apenas por hoje, pode tentar imaginar o quão sofrido
foi aquele tempo.
Videira completa hoje 68 anos. Cheguei aqui logo depois
de celebrar os 62. Lembro que foi “ontem” quando desembarquei na
rodoviária. Passavam três minutos da
meia-noite e nem sabia onde é que eu pegaria o táxi que me levaria à pensão.
Tive a felicidade (e satisfação) de desbravar esta terra com tudo ajeitado:
lugar para morar, trabalho e o pensamento de vir e ficar. Saí. Passei um tempo
fora e retornei. Hoje, sou um videirense. Um gaúcho de Videira. Como muitos
gaúchos, não negamos a raça, mas também não escondemos o orgulho daqui.
Bebi da tão famosa água do Rio do Peixe. Morava de um
lado da ponte. Até acostumar a atravessar o rio (e enfrentar meu receio por
pontes) foram-se alguns dias. Ou muitos dias. Ainda caminho mais na beiradinha
do lado da rua. Quando cruzo a ponte, recordo de como vim para cá. Vim sem
conhecer, sem saber onde ficava, sem uma mínima noção de clima, de povo, de
sotaques, de culturas, da economia. Como muitos, cheguei sem saber onde estava.
Normal para qualquer imigrante. Oas poucos fui descobrindo, me encantando.
Cheguei, gostei, bebi da água da Casan e finquei raízes.
Aqui estou, depois de seis curtos anos. Parece que foi ontem que cheguei com
minha mala. Agora, sou videirense. Um gaúcho de Videira. Não perdi minhas
raízes, minha base. Apenas acrescentei minha base videirense. Prova disso é
minha filha, minha família. Aqui se planta e aqui se colhe. Com chuva, com sol
ou com granizo, aqui se planta e aqui se colhe todos os dias. Eu plantei o amor
e colhi a minha filha, aqui, nesta terra que me acolheu tão bem e ainda o faz.
Parabéns para todos nós.
Ouvindo: You're Gonna Need Someone On Your Side do Morrissey.
Um comentário:
Sou imensamente grata por papai do céu te mostrar o caminho de Videira.
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