quarta-feira, 28 de março de 2012

Eles calçaram bem

***  Pessoal, cabe recordar que os textos são antigos, das colunas que escrevo semanalmente no Jornal Diário do Meio Oeste. Sei que muitos não leram todas, tampouco se interessaram, mas é quase um roteiro, uma novela em forma de literatura jornalística. Quiçá, um desabafo sobre algum tema abstrato, mas real. ***





Ouvindo: God Gave Rock and Roll To You do Kiss.



Minha filha nasceu na quinta-feira. Foram quase 38 semanas e três dias. É um período de tempo considerável, angustiante, confuso (às vezes), preocupante, mas, quando a vida aflora, abundantemente inexplicável. Quando segurei minha filha pela primeira vez, confesso, colapsei. Felicidade, agonia, fausto, medo, receio, gáudio, enfim, uma miscelânea de sentimentos confusos e sem explicação precisa.

Não consegui ‘ler’ as fotos da revista enquanto aguardava. Foi tudo muito rápido. Deu tempo de olhar por uma porta com vidros foscos e tentar voltar para um sofá de espera. Neste meio tempo, quando pegava uma revista para “ler” as fotos, algum pequeno choro ouvi de fundo. O barulho da enceradeira se confundia, mas eu senti que era ela. A minha filha viu a luz!

Naqueles poucos minutos que se passaram depois deste som, tive de esperar. A angústia e preocupação deram lugar ao vazio. Quando o pediatra chamou, nem terminou de dizer o nome dela e já estava eu. Nem vi o rosto do médico, tampouco da enfermeira, apenas vi aquela menina, vestida com a mesma roupa que estava dentro do útero, e segurei-a. Foram os 15 segundos do vazio que senti.

Este é o vazio mais espetacular que a vida pode proporcionar. Nem a meditação do Dalai Lama me faria sentir tão bem como a ‘meditação’ proporcionada pela oportunidade de ver minha filha, conhecê-la depois de quase nove meses. A espera valeu mais do que a pena. Esta sim foi uma oportunidade única. A chance que o Pai do Céu me dispôs, me confiou, acreditou e proporcionou.

Hoje, mais do que ontem, sinto-me lisonjeado em dizer: sou pai! Na loja, a guria perguntou: “- Olá, qual o nome do senhor? Pode me chamar de pai que está super bom”. É muito gostosa ter esta sensação, esta função, este “trabalho”, seja lá o que for, ser pai. Ouvi não de um, mas de muitos pais e mães a gostosura que é ter um filho. Seja guri ou guria, filho com O ou com A, é a mesma emoção.

A espera foi recompensadora. É muito receio que se passa no tempo de formação, de espera. Os últimos dias não passavam, era o que pensava quando tentava dormir. Quando chegou, vi os quase nove meses em um piscar de olhos. Olhei pela janela do quarto, vi o sol lindo da quinta-feira já brilhando cedo, contemplativo, e agradeci. Seja lá como for meu ai do Céu, humildemente, eu agradeci.

Questionaram-me sobre como seria o desfecho desta história. Tive de pedir desculpas e dizer que não teria o final. Apenas pude dizer, orgulhoso e feliz, que as palavras de hoje seriam sobre o início e não o fim. A vida teve início para nós e não um fim. Antes, eram apenas especulações, expectativas, suposições. Mais do que nunca, este início nunca foi tão esperado.

E fico feliz em saber que todo dia 02 de fevereiro, do resto da minha vida, será o dia da alegria, do bolo. Será mais comemorado do que o Natal, Ano Novo, meu aniversário. Será o aniversário da minha filha, com bolo e refrigerante. Por fim, agradeço aos profissionais do Hospital Santa Maria, enfermeiras, médicos, técnicas. Obrigado para cada um de vocês, por nos cuidarem tão bem. Alguém deve lembrar dos sapatinhos. Pois então, eles serviram e são confortáveis. Narai Al Shackbur!

Ouvindo: Wherever You May Go do David Coverdale.

3 comentários:

Silvia Angélica Palma disse...

Iaaaaaa....como a Sofia está bochechuda.....linda de viver...preciso ir visitá-la de novo.....beijo na família...

Anônimo disse...

Quero fazer uma doação de 10.000. Como posso fazer. Abraço.

Iaran de Oliveira disse...

Venha nos visitar, Sil.
Anônimo, pode doar sim..irá direto para a conta da Sofia, para a universidade dela. Mande seu e-mail.

Abraço e obrigado gente