segunda-feira, 18 de junho de 2012

O botão do “pause”


* Coluna publicada no Diário do Meio Oeste do dia 21 de abril de 2012. Confesso que fez-me chorar enquanto imaginava  e escrevi. ** 


Ouvindo: Cum On Feel The Noise do Quiet Riot.

Queria ter uma mente tão boa para poder lembrar de quais os primeiros gestos ou atitudes que tive quando bebê. Tenho poucas fotos. Naquele tempo não existiam máquinas digitais e imprimir fotos não era tão barato quanto hoje. Eram as máquinas de filme mesmo. Havia de se adquirir os filmes e depois mandar revelar.  Lembro de uma cena em que eu era fofo. Fofo no sentido metafórico de gente pequena, bebê.

Mas apenas naquele tempo. Hoje ando fofo de gordo. Deve ser por influência da indústria de animais: engorda para abater mais tarde. Mas meu bacon deve ser bem bom. Slápt! É como comida: quanto mais gordurosa parece que é melhor. Mas voltando ao fofo. Tem uma cena que estou de fralda (aquelas de pano ainda com uma cueca elástica para segurar) e com um conjuntinho colorido. 


Nem sei quem fotografou. Minha mãe não foi, tampouco meu pai. Um tio ou tia quem sabe. Independente de quem, pegou nossa posição e marcou nossa história. Tanto a minha quanto a história das demais pessoas. Lembro de minha irmã mais velha; uma menininha naquela foto e ,hoje, um mulherão. O tempo passa e as lembranças também. Poderiam não passar; que ficassem as lembranças que esquecemos. Aquelas boas.


Aquele conjuntinho colorido que sumiu. Deve ter servido para outra criança. Até por que ficar guardando toda roupa de criança não é bom. Bom mesmo é repassar; fazer andar. Não tudo, mas as úteis.  Roupa é um produto que tem vida útil; usa-se e joga-se fora. Antes de jogá-la no lixo, que permita outra criança usar. E tem muitas crianças que fariam bom uso. Tão útil e simpático o compartilhar, o doar, o ajudar.


O velho conjuntinho lembrou-me do que esqueci, ou melhor, do que não lembro. Quiçá permaneça em algum local muito bem escondido do cérebro. Quão bom seria se fosse com controle remoto (daqueles em que a pilha nunca acaba e poderia ser levado para qualquer local, sem atrapalhar): apertar o botão ”retroceder” e visualizar  alguma cena não lembrada ou digitar no botão “pesquisar”.

Redundante, mas o tempo passa a cada instante. Não nos dá a oportunidade de parar e dizer: - Espere aqui até eu decidir seguir. Não temos esta tecla, tampouco controle remoto. Como uma ficção, poderiam apontar que parar o tempo resultaria em estragos para outros também. Imagina se todos decidissem parar o relógio: ninguém seguiria.  Precisamos caminhar para frente, pois neste assunto não tem o contrário.

Supondo que Nosso Criador oportunizasse apenas um “pause” na vida. Você teria de pensar com racionalidade e instantaneidade: em qual momento você apertaria o “pause” da vida? Ou para quem você apertaria o “pause” da vida? Poderia ser um momento bom, ruim feliz, alegre, emocionante, confuso, complicado. Difícil. Muito difícil escolher o momento certo para apertar aquele botão.

Passei a semana pensando nisso. Quis compartilhar um momento de reflexão com você.  Lembrei do meu velho pai; mas não apertaria o “pause”. Ele teve o tempo dele. Tem minha mãe que merece muito este “pause”. Uma vitória, uma conquista, um acidente, uma notícia. O meu “pause” eu sei e faria agora: ficar admirando a minha pequena filha sorrir. Este gesto merece um “pause” infinito, como o meu amor por ela.

Ouvindo: Heroes do David Bowie. 

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