terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

Sentidos




Ouvindo: Man On The Silver Mountain do Rainbow.

Independente de quem nos criou como seres humanos, teve a gentileza de nos dar os sentidos. E estes troços são fantásticos. Podemos ver uma bela churrasqueira, tocar em um pedaço de picanha ainda gélida, sentir o gosto da lasca de um pedaço de carne, sentir o cheiro dela assando e ouvir o estalar da brasa. Que prenúncio mais bocó para falar do sentir e escutar.
Porém sou gaúcho e não poderia deixar de exaltar um dos costumes que retratam a minha terra, uma das várias áreas culturais do meu Rio Grande do Sul. E sei que, se não todos, muitos do que estão pousando os olhos sobre estas palavras apreciam o tal do churrasco. Mas convenhamos: é bom, não? Coloca gelar a cerveja e me convide depois. Até faço questão de queimar a barriga em frente ao fogo.
Porém, volto aos sentidos. O tal do criador deu esta oportunidade de ver, sentir e ouvir. Ando reparando mais do que normalmente o fazia. Não sei se é porque estou grávido também que vejo muitas lindas gestantes perambulando por aí, comprando, expondo aquele barrigão lindo. Eu vejo beleza nisso. Quem sabe aquele serzinho lá dentro me motive a ver a beleza e o privilégio que este mesmo serzinho terá quando grande.
A oportunidade de colocar uma mão grosseira em uma barriga, ao que parece, tão frágil, mas se colocando como um forte intransponível. Por dentro daquelas várias camadas existe alguém. Alguém que respira, que se alimenta, que ouve, que sente, que se comunica. Mais coma mãe do que comigo, aqueles chutinhos são formas de comunicação. O que diz? “Hei! Tem alguém aqui dentro!”
Esta forma de comunicação dá um arrepio sem tamanho. Por mais que senti medo na vida, nunca senti medo como este: de ser responsável por alguém pelo resto da vida. E dá medo sim. Digam que não, mas quando paro a pensar em como fazer para que tudo ocorra da melhor forma possível durante a sua futura vida com todos nós, tento imaginar como fazer. Creio que a mãe seja melhor nisso do que o pai.
Aquele toque na barriga nem sempre gera o resultado esperado. Fico esperando aquele tum-tum, cobiço uma resposta. Nem sempre aquele tum-tum é perceptível por minha grosseira mão. Não que eu fique horas e horas com a mão na barriga, mas quando ouço o sinal de que alguém está acordado, pouso minha mão – e tento fazer de maneira suave. Mas a pequenina não dá um chute tão forte quanto eu imaginava. São delicados toques.
Esta comunicação me deixa apreensivo. Já a imagino conversando comigo. Ando ansioso em poder conhecer a sua voz, conversando, assistindo a Galinha Pintadinha, fazendo os corninhos do Rock, como criou Ronnie James Dio alguns anos antes – quem sabe ensine isso para ela. Quem sabe até motivada pela minha paixão. Não sou de ouvir repetidas vezes a mesma musica. Mas, bem provavelmente, o terei de fazer.
Quem tem filho pequeno ou sobrinho por perto sabe do que faço referência. Criança adora dizer: “de novo, de novo, mais uma vez, outra, mais uma, faz mais”. Ando já me acostumando com a ideia, entretanto tenho de segurar a minha imaginação e re-pousar minha mão sobre a barriga, acariciando-a suavemente, e esperar. Um pouco a mais, mas esperar.

Ouvindo: All Because of You do Blackmore´s Night.

Um comentário:

Silvia Angélica Palma disse...

Ia...que mãozinha mais linda, não?
teus textos são ótimos...Sofia ficará orgulhosa em lê-los mais tarde...