** Coluna publicada no dia 02 de junho, pelo Diário do Meio Oeste. **
Ouvindo: 29 Palms do
Robert Plant
Poderia
me valer do pleonasmo literário, optando pelo pleonasmo vicioso, transpassando
pela redundância estilística a expressar uma repetição que se fará. Para
muitos, todos os dias são quase iguais. Algumas vezes mudam de roupa para ir ou
voltar do trabalho e jantam algo diferente. Por isso do ‘quase’ anterior. Um
dia tem bife de gado, outro tem coxa de frango, mas sempre com arroz, feijão e
salada. São pratos intercalados, para não enjoar ou comer sempre a mesma coisa.
Tal
qual ir ao mesmo restaurante, todos os cinco dias úteis da semana (e como se
sábado e domingo fossem inúteis), almoçar e cumprimentar sempre as mesmas
pessoas, da mesma forma: Olá! Oi! Tudo bem? Joia? Tudo bem bom? Para variar,
não apenas o cardápio, é espichada uma frase como: será que chove hoje de
tarde? O seu time ganhou ontem? Cheiro bom deste feijão, não? Apenas para puxar
um pouco de conversa e apressar enquanto se espera a vez na fila.
E
se convive com isso. O que não é pleonasmo neste caso é almoçar em casa e ver o
cachorro abanando o rabo. Isso sim não é algo repetitivo, recorrente. Aquele
“cidadão peludo” acenou quando saiu de casa, você com a mesma roupa da semana
passada (mudando apenas a cueca), e sorriu quando voltou ao meio-dia, pois ele
não esperava. Mas nem deu tempo de ver o sorriso canino, pois a correria
obrigava-o a almoçar uma torrada com um copo de suco do dia anterior. O
cachorro acena lá fora!
Pode
parecer estranho, mas a repetição nos torna tal qual um robô, aquele mesmo que
você manuseia no seu trabalho ou que processa o queijo que você ingeriu pouco
antes de voltar a sair e deixar o “cidadão peludo” a ver navios, sem atenção
(da torrada, lembra?). O mundo nos impõe isso. Dia a dia, o cotidiano, a vida,
a mesmice, a complacência, a acomodação. O trabalho nos impõe a acomodação.
Ficar sentado, todo o dia, cinco dias por semana (ou seis), atendendo e falando
as mesmas coisas.
Pior
é daquele que faz tudo isso e ainda por cima escutando desaforos ou tentando
resolver os problemas que outros criaram. São heróis. Este tipo de gente merece
um diploma de herói e abnegado. “Empacota tudo e manda a conta lá em casa!”
Quão bom seria poder dizer isso aos problemas, deixar que outros os resolvam.
Temos problemas e o pior, somos nós quem os produzimos. Depois tem alguém a ser
envolvido para resolver (felizes ficam os advogados).
Ainda
bem que a segunda-feira existe. É o melhor dia da semana. O domingo é um dia
horrendo, pior ainda a tarde e a noite do domingo. Só de imaginar, já fico
agoniado. Até terminar de lavar a louça do domingo é uma maravilha. Depois?
Melhor que já chegasse a segunda. Adoro também a quinta. Dá para pensar: “só
mais um pouco, vamos, só mais um pouco, mais um pouquinho”. O sábado acaba e a
tristeza volta. No fundo, a segunda me anima. Saber que recomeça, tudo de novo
(igual e repetido).
O
cotidiano da vida é tão subjetivo, pois cada dia é igual. Todos com 24 horas. O
que fazemos nestas horas é que muda. Para alguns, o lanche, o café, o almoço ou
a janta; outros, o trabalho. Feliz é aquele que pode ter dias alternados entre
as pessoas, conhecendo, convivendo, conversando, ajudando e até reclamando. Mas
que reclame para outra pessoa, pois a mesma já se torna um pleonasmo. O que me
anima, em plena segunda, é saber que começo pensando em fazer algo para alguém.
Ouvindo: Layla do Eric
Clapton.
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