quinta-feira, 2 de agosto de 2012

O cotidiano do dia a dia


** Coluna publicada no dia 02 de junho, pelo Diário do Meio Oeste. **


Ouvindo: 29 Palms do Robert Plant

Poderia me valer do pleonasmo literário, optando pelo pleonasmo vicioso, transpassando pela redundância estilística a expressar uma repetição que se fará. Para muitos, todos os dias são quase iguais. Algumas vezes mudam de roupa para ir ou voltar do trabalho e jantam algo diferente. Por isso do ‘quase’ anterior. Um dia tem bife de gado, outro tem coxa de frango, mas sempre com arroz, feijão e salada. São pratos intercalados, para não enjoar ou comer sempre a mesma coisa.

Tal qual ir ao mesmo restaurante, todos os cinco dias úteis da semana (e como se sábado e domingo fossem inúteis), almoçar e cumprimentar sempre as mesmas pessoas, da mesma forma: Olá! Oi! Tudo bem? Joia? Tudo bem bom? Para variar, não apenas o cardápio, é espichada uma frase como: será que chove hoje de tarde? O seu time ganhou ontem? Cheiro bom deste feijão, não? Apenas para puxar um pouco de conversa e apressar enquanto se espera a vez na fila.

E se convive com isso. O que não é pleonasmo neste caso é almoçar em casa e ver o cachorro abanando o rabo. Isso sim não é algo repetitivo, recorrente. Aquele “cidadão peludo” acenou quando saiu de casa, você com a mesma roupa da semana passada (mudando apenas a cueca), e sorriu quando voltou ao meio-dia, pois ele não esperava. Mas nem deu tempo de ver o sorriso canino, pois a correria obrigava-o a almoçar uma torrada com um copo de suco do dia anterior. O cachorro acena lá fora!



Pode parecer estranho, mas a repetição nos torna tal qual um robô, aquele mesmo que você manuseia no seu trabalho ou que processa o queijo que você ingeriu pouco antes de voltar a sair e deixar o “cidadão peludo” a ver navios, sem atenção (da torrada, lembra?). O mundo nos impõe isso. Dia a dia, o cotidiano, a vida, a mesmice, a complacência, a acomodação. O trabalho nos impõe a acomodação. Ficar sentado, todo o dia, cinco dias por semana (ou seis), atendendo e falando as mesmas coisas.

Pior é daquele que faz tudo isso e ainda por cima escutando desaforos ou tentando resolver os problemas que outros criaram. São heróis. Este tipo de gente merece um diploma de herói e abnegado. “Empacota tudo e manda a conta lá em casa!” Quão bom seria poder dizer isso aos problemas, deixar que outros os resolvam. Temos problemas e o pior, somos nós quem os produzimos. Depois tem alguém a ser envolvido para resolver (felizes ficam os advogados).

Ainda bem que a segunda-feira existe. É o melhor dia da semana. O domingo é um dia horrendo, pior ainda a tarde e a noite do domingo. Só de imaginar, já fico agoniado. Até terminar de lavar a louça do domingo é uma maravilha. Depois? Melhor que já chegasse a segunda. Adoro também a quinta. Dá para pensar: “só mais um pouco, vamos, só mais um pouco, mais um pouquinho”. O sábado acaba e a tristeza volta. No fundo, a segunda me anima. Saber que recomeça, tudo de novo (igual e repetido).

O cotidiano da vida é tão subjetivo, pois cada dia é igual. Todos com 24 horas. O que fazemos nestas horas é que muda. Para alguns, o lanche, o café, o almoço ou a janta; outros, o trabalho. Feliz é aquele que pode ter dias alternados entre as pessoas, conhecendo, convivendo, conversando, ajudando e até reclamando. Mas que reclame para outra pessoa, pois a mesma já se torna um pleonasmo. O que me anima, em plena segunda, é saber que começo pensando em fazer algo para alguém.

Ouvindo: Layla do Eric Clapton. 

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