domingo, 8 de julho de 2007

Repórter





Ouvindo: Main Man do T. Rex. São 14h31.

Eu senti o cheiro do sangue, eu senti o cheiro de morte, eu senti o ar da tristeza, da perda, da indignação. Eu vi alegria, vi sorriso. Eu vi emoção, surpresa, felicidade. Eu tive a oportunidade de sentir medo, sentir pena, sentir dor. Eu fui onde muita gente gostaria de ir. Eu estive com pessoas que muitos dariam qualquer coisa para estar perto. Eu conversei com pessoas incríveis. Eu entrevistei pessoas medonhas, corruptas, criminosas. Através do meu trabalho, eu pude ver algumas cenas que não gostaria de ter visto. Eu vi pessoas que me causaram medo e raiva. Obriguei-me a ser imparcial em assuntos que eu não seria como um ser humano racional. Senti ódio de pessoas más. Vi bandido confesso não sentir pena e dizer que mataria novamente. Levei chute de bandido, levei soco de pessoas que tinham feito algo errado. Fui elogiado por um bom trabalho. Já fui elogiado por um trabalho bem feito e fui ameaçado por ter descoberto o que não queriam que o fosse. Apontei bandido e o bandido me marcou. São algumas cenas que tive de passar através do meu digno e honroso trabalho. Sou repórter. Nasci radialista, mas virei repórter. Desde pequenino sou metido e curioso. Minha amada mãe recorda, de tempos em tempos, os momentos em que éramos visita na casa de alguém e o pequeno Neno começara a abrir portas e gavetas procurando algo de interessante para brincar. Era o primeiro a ir buscar o que era necessário. Seja uma xícara ou um prato. Na infância eu dera meus primeiros passos para o meu trabalho, a minha vida. Por quanto tempo eu não sei. Apenas sei que devo fazer o meu melhor, informar, buscar a verdade e fazer saber a todos quantos queiram saber. Informação tornou-se minha vida. Da minha curiosidade tornou-se a minha profissão. E com muito orgulho. Tive acesso a muitos lugares que não teria antes. Vi, cara-a-cara, pessoas que jamais teria acesso. Entro e saio com facilidade. Sou metido sim. E com orgulho. Tornei-me ávido por informação, por cultura. Qualquer notícia é boa. Desde o cachorro que morreu atropelado até o assassino do irmão. As fotos, no início desde post, quase seriam as minhas. As imagens são minhas. Do dia 03 de março deste ano de 2007. Recordo que estava um dia chuvoso, uma tarde de unidade móvel em Bento Gonçalves. Recebi a informação de um acidente grava na RST470. Estava me deslocando até o acidente quando Pai do Céu olhou por mim e me fez pensar de forma extremamente rápida. Ou pode ter feito eu não pensar em trocar de marcha. O Kadett da foto deveria ter sido o Fiesta da Rádio em que eu estava. De forma rápida consegui desviar do carro que vinha no sentido contrário. Desisti de ultrapassar um caminhão porque estava ao celular falando com a Lara. A Larinha, minha amiga do coração de Carlos Barbosa. Falávamos sobre minha recente mudança de Barbosa à Bento. Nestes segundos que duraram intermináveis momentos (na impressão que tive) pude ver um acidente grave. Por pouco não capotei o carro desviando do Kadett. Centímetros adiante o caminhão cruzava a pista e caía num barranco. E quando “acordei” estava na valeta da pista contrária com o telefone celular em mãos e ligando para a Polícia Rodoviária. Diante da gravidade do acidente desci do carro, mesmo com chuva, e corri em direção ao Kadett. Ajudei-os a descer do carro e pedir para que ficassem parados, deitados na pista. Aprendi a não mexer muito em feridos por causa de lesões que podem ser agravadas. Apenas algumas escoriações. Pelas fotos imagina-se algo de extrema gravidade. Mas os três ocupantes tiveram apenas alguns ferimentos leves. Arranhões leves. Fiz minha parte como ser humano. Ajudei quem precisava e depois, um tanto trêmulo, fiz um boletim ao vivo para a Rádio contando o que acontecera comigo. Entrei no carro novamente e segui até o outro acidente. Não cheguei lá, pois o trânsito estava trancado e não iria caminhar cinco ou seis quilômetros debaixo de uma chuva danada. Conversara com meu chefe de redação e expliquei. Ele pediu para voltar. Descobri que Pai do Céu me ama muito. Sim, me ama muito mesmo. Tanto quanto minha família me ama. Desde pequeno ele me cuida. Minha amada mãe sabe. Acidentes, bobagens, dia-a-dia. Independente dos motivos ou razões, estou vivo e aqui: feliz. Ele quer que eu seja feliz sim. Deu-me tudo o que pedi e tudo o que eu precisei. Uma família amorosa, tranqüila, inteligente, carinhosa, incentivadora e que me educou muito bem. Deu-me bons professores. Seja na escola ou no trabalho. Deu-me força de vontade para lutar todos os dias. Levantar a cada dia com a vida diante dos olhos. Deu-me pernas para caminhar e uma mente para pensar. Deu-me inteligência. E deu-me vontade para desenvolvê-la. Ele deu-me muita coisa, muitas oportunidades. Algumas eu peguei outras deixei passar, mesmo que de forma inconsciente. Nesta última, pedi a oportunidade e Ele me deu. Agarrei-a com toda a sinceridade, amor e esperança. E aceitei o desafio. Desafio este que eu mesmo pedi. E estou aproveitando. De forma curiosa, vim aqui. Estou como a Petrobrás: o Desafio é Minha Maior Energia. Não sei se amo o que eu faço. Mas sei que amo o fazer.

Ouvindo: Baby Stranger do T. Rex. São 15h52.

Um comentário:

Anônimo disse...

saibas que é o melhor profissional de rádio que habita nessa city. Já te elogiei muitas vezes e mais uma vez repito..admiro teu estilo de ir além do óbvio. Assim agem os bons profissionais.
Um beijo queridão...bom início de semana..obrigada pela homenagem (da foto caipira)e pelo cafezinho que se transformou em cervejinha.
Adoro vc viu..
Todo sucesso do mundo pra vc..
E que Deus continue assim..de olhos grudados em vc, te abençoando cada vez mais.... estou sempre na torcida...